[Fotografia: As Águas Servidas]

Do topo da suave colina, eu a vejo...

Na rua de um antigo sanatório de tuberculosos,

a manhã de chumbo irrompe da noite.

A comprida língua de água servida cinzenta, viscosa,

estende-se na sarjeta até o suave aclive da rua.

Sou ausente do mundo, e passo devagar —

os meus pés, as minhas mãos é que dirigem

este carro rua abaixo, enquanto os meus olhos

se demoram na suja língua de água servida.

Sigo em frente; paro no farol, e penso:

quantas línguas se serviram desta água,

ou, por que mãos sujas terá passado...

Qual é a história desta água servida do cotidiano?

Ainda pouco, atendeu necessidades,

irrigou, lavou, enxaguou, limpou.

Agora pútrida, jaz na sarjeta a sumir-se...

Que semelhança atroz é essa que eu vejo?!

[Penas do Desterro, 17 de setembro de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 17/09/2010
Reeditado em 28/12/2010
Código do texto: T2504627
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