Esquecidos
Estavam ali no mesmo local, eram as mesmas casas, as mesmas faces, aquela irritante, mas que no momento soava agradavelmente, as algazarras dos meninos, dei por falta do jegue o que terá acontecido com o pobre diabo.
Olhando a rua da minha casa, onde cresci correndo na várzea, na neblina dos domingos ao amanhecer, tinha a fantasiar de estar voando numa nuvem macia, de tomar banhos na chuva nas poças, rolar na fina areia da ilha são boas lembranças.
Entretanto, a olha-la na sua rudeza, deparo-me com os olhos secos de uma geração sem alentos, são jovens que criaram e que se criam seus filhos nesse bairro do abandono, nesse chão em que pescadores marcham diariamente para a única e hereditária profissão. Pergunto-me o que serão deles, o que o futuro lhes reservam, a idéia de futuros lavradores, pescadores ronda como uma desgostosa certeza, a única opção que lhes foi dada, mas por quanto tempo o leito desse rio lhes dará o pão do dia, a até quando o mundo negará sua existência?! Quantos foram, quantos serão?!
Rapazes que se tornam ignorantes a cada dia, que não sabem dos seus direitos e vivem numa cruel falta de questionamentos, que vão a escola e não se interessam tanto, talvez por saberem da falta de oportunidades, se limitam apenas em juntar as letras.
Estão esquecidos entre os grandes discursos, e não fazem questão de tal, sonham com o mundo melhor, mas desconhecem o próprio e se acomodam com o presente.
Alguém fará algo para mudar, colocarão sonhos prósperos e realizáveis nos seus caminhos, ou no mais tardar no dos seus netos?
Até quando esses jovens ficaram assim, deitados sob uma sombra de árvore enquanto muitos lutam frenéticos por seus milhões, por seus carrões.