Para além da janela. - [Ou o fio de cabelo que o vento levou]

Cansei de mim, das minhas janelas e do que vejo para além dela.

A fragmentação do tempo me parece um conceito distante agora. Não que seja impossível, mas já me contaminei de ser-humana. E com isso, não posso ver o tempo além de dia, horas, meses, anos. Que seguem para além da janela.

Debrucei, por teimosia neste andar. Não vejo o rostos das pessoas, só vejo o que está acima de suas cabeças. E não há nada lá. São meramente cabeças andando em corpos que não vejo.

A janela me conforta, ainda que no início eu me inquietasse com ela. Agora posso ficar e olhar. Se eu só fechar os olhos posso sentir o vento e voar é o mínimo.

Queria que esta fosse a última carta de intento. Queria que as dores parassem.

Não, meus caros! Não estou aqui prostrada a escrever sobre eventuais dores psicológicas, ou de amores febris e adolescentes. Escrevo de dores que me afligem e que me cortam. Dores que me tiram o sono, que me tiram a paciência e a vida.

Ironia da vida.

Não acelerem o tempo [que não sei fragmentar e descrever]. Nem acelerem a vida por vir. O lamúrio da ironia malévola pode doer, como me dói.

Quisera poder aconselhar alguém, mas sou pouco tempo em mim e comigo, portanto não sei dizer nada além do tempo que me fiz e que me vinha construindo.

Faltaram os materiais e agora a construção estagnou e cá estou.

Deve pensar consigo mesmo agora: Texto confuso que não entendo.

Que assim seja, pois caso ache que entendeu o que escrevo não se presuma por tanto, nem eu sei armar a coesão no que não digeri e aqui expus.

E não me faço clara por mera subjetividade do meu eu. Que sou confusa.

Jogar-se. Para voar e encontrar o outro lado da contagem regressiva, pois talvez além do espelho, o relógio seja visto de trás para frente e eu possa ser mais do que agora sobrou.

E você não entende. Acha que fico por além de nós. Não. Fico porque assim tem que ser agora.

Fecha, fecha rápido que a luz é sinal de menos um dia. E que não quero ficar na inquietude do relógio traiçoeiro.

Escuta o que eu digo, porque as palavras me custam. Mas não sei custear de ti o que perdi.

Eis-me aqui. O nada deste vazio que me tomou e que tanto lutei para não ouvir.

Não me ignore. O desespero, a dor me impulsionam ao grito, mas ainda devo ter um quê de suspiro em mim. Não encontro.

Dói. A janela é ponte que me leva ao outro lado do espelho. De relógios em contagem não regressa. Se o houver, que a esperança siga como deste lado do reflexo.

O medo é de novo, do novo. Janela de vento que me segura. Vento que sinto, é sinal de que vivo.

É o mesmo vento que leva os meus fios de cabelo. [ Que caem]

...

Meu corpo é inquieto, aperitivo de ressonância. Inquietude de janela. Janela de cabeças. Cabeças sem corpos. Corpo sem vida. Eu.

Ísis Almeida Esth
Enviado por Ísis Almeida Esth em 15/09/2010
Reeditado em 18/03/2012
Código do texto: T2499878
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.