[A Ameaça]

[Quando o outro adentra o meu mundo...

toda relação é um perigo!]

Supões veladamente

que, contra ti,

eu tenho intenção

de posse, de ódio,

ou até de desejo...

E te defendes com palavras sem corte,

transferindo para mim a tua insegurança:

o ataque à possibilidade do [meu] ataque!

Portanto,

há uma ameaça...

Seja:

a ameaça

na voz,

mas não na frase escrita.

Ou:

a ameaça

na frase escrita,

mas não na voz.

Mas não há dúvida:

há uma ameaça... Onde?

Na tua voz que eu não ouvi,

mas pus nas palavras que me escreveste?

Onde? Onde a ameaça

que eu represento...

que tu representas...?

Onde? Onde?

Não há como escapar,

pois o olhar da cobra imanta a presa...

Ameaça mais com a possibilidade do bote,

do que com bote em si mesmo?

Sou, sem querer ser, sem saber ser,

apenas um vazio homem pós-moderno —

cruz credo, diria a minha tia Júlia,

a famosa e espirituosa "capeta carijó"!

[Penas do Desterro, 13 de setembro de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 13/09/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2495655
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