[A Ameaça]
[Quando o outro adentra o meu mundo...
toda relação é um perigo!]
Supões veladamente
que, contra ti,
eu tenho intenção
de posse, de ódio,
ou até de desejo...
E te defendes com palavras sem corte,
transferindo para mim a tua insegurança:
o ataque à possibilidade do [meu] ataque!
Portanto,
há uma ameaça...
Seja:
a ameaça
na voz,
mas não na frase escrita.
Ou:
a ameaça
na frase escrita,
mas não na voz.
Mas não há dúvida:
há uma ameaça... Onde?
Na tua voz que eu não ouvi,
mas pus nas palavras que me escreveste?
Onde? Onde a ameaça
que eu represento...
que tu representas...?
Onde? Onde?
Não há como escapar,
pois o olhar da cobra imanta a presa...
Ameaça mais com a possibilidade do bote,
do que com bote em si mesmo?
Sou, sem querer ser, sem saber ser,
apenas um vazio homem pós-moderno —
cruz credo, diria a minha tia Júlia,
a famosa e espirituosa "capeta carijó"!
[Penas do Desterro, 13 de setembro de 2010]