[A Fina Arte de Matar]

Depois de passar perto da macaúba magrinha,

sentinela postada no trieiro que vem da cachoeira,

o rego d'água passa pelo pé de limão galego,

e carrega pra longe as flores derrubadas.

A seguir, depois de triscar na pedra de amolar

encaixada num recorte do extenso de cocho de madeira,

o rego d'água faz remansinho surdo no tanque,

e em seguida, escapando das serventias da casa grande,

espraia-se, à folga, em amplas pedras limentas...

Ali, eu brincava de escorregar no lodo das pedras...

e foi quando vi um morcego atarracado nas ranhuras

da pedra limenta, bracejando, com esforço,

contra a rapidez da semovente lâmina de água.

Coitado, coitadinho... vai morrer tentando... pensei...

E então, na minha fugaz onipotência do instante,

decidi a sorte do morcego: salvei-o da correnteza!

Meu coração: é feito de quê - de manteiga de leite?

Por que, por que como tantos neste mundo,

eu não aprendi aquela fina arte de matar?!

[Penas do Desterro, 13 de setembro de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 13/09/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2494601
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