[A Fina Arte de Matar]
Depois de passar perto da macaúba magrinha,
sentinela postada no trieiro que vem da cachoeira,
o rego d'água passa pelo pé de limão galego,
e carrega pra longe as flores derrubadas.
A seguir, depois de triscar na pedra de amolar
encaixada num recorte do extenso de cocho de madeira,
o rego d'água faz remansinho surdo no tanque,
e em seguida, escapando das serventias da casa grande,
espraia-se, à folga, em amplas pedras limentas...
Ali, eu brincava de escorregar no lodo das pedras...
e foi quando vi um morcego atarracado nas ranhuras
da pedra limenta, bracejando, com esforço,
contra a rapidez da semovente lâmina de água.
Coitado, coitadinho... vai morrer tentando... pensei...
E então, na minha fugaz onipotência do instante,
decidi a sorte do morcego: salvei-o da correnteza!
Meu coração: é feito de quê - de manteiga de leite?
Por que, por que como tantos neste mundo,
eu não aprendi aquela fina arte de matar?!
[Penas do Desterro, 13 de setembro de 2010]