Chave

A chave que tenho não cabe mais na porta da nossa casa. Ela foi vendida...

Tingiram o céu de vermelho e nos deram asas.

Para que? Porque?

Como se não bastasse ter de viver, ainda nos fazem amar.

Ficamos como moscas entorpecidas pelo “doce veneno mortal”.

Fala-se de superioridade, mas nós não passamos do estrume que serve de alimento a nós mesmos.

Deponha contra aquilo avilta tua sanidade, e diante dos outros será tão ignóbil quanto uma pequena pedra.

Não vê? Somos mímicos sem personalidade, somos anjos sem santidade, discordamos num simples ato de concordar...

Agora você vem me falar de lucidez, consciência?

Convenhamos, você perece um idiota parado aí, lendo essa porcaria que foi vomitada, fazendo você perder seu “precioso” tempo.

Sabe o que mais me irrita? É sentir o inebriante perfume dela, permitir-me o desvairar nas impetuosas e provocantes curvas do seu corpo, descompassar o coração, e mesmo lutando para nada falar, dizer: eu te amo...

Sendo que é justamente nessa lama que você afunda. Entope-se de quilos de cigarro e de vodka, sai por aí cuspindo rancores e frustrações que a maioria chama de verdade e quanto mais mergulha nessa dor “imaculada” percebe que a imagem da mais pura das musas que você adora, é o demônio que ter apunhala covardemente...

Mas não para por aí, agora surge um sussurro, uma voz pálida e apática, vestígios do que restou da sua consciência ou talvez do bom senso, dizendo: Salte! Corra! Morra!

Será que viver, pensar e amar realmente é o certo, ou o normal?

(1999)