Meus olhos, minha religião

Acho que é hora de começar a fingir que me importo

Até a igreja eu fui hoje

Lá eu falei com um homem que não faz sexo (com adultos)

Ele disse que meu caso era perdido

Nunca fui religioso mesmo, sou apenas intuição e emoção

Já fui bondade, já fui maldade, sou o que já plantaram em mim

Você pode até tentar me decifrar

E caso consiga, por favor, me apresente

Fui apresentado ao amor

Mas ele não simpatizou comigo

Seu gosto era doce, mas cheio de efeitos colaterais

O vi prometer castelos, mas nunca mover uma pedra

Vi de tudo um pouco

Meus olhos são a minha experiência

Eu diria que eles são a minha religião

Vejo, logo acredito

Vi o papa confiar sua vida a Jesus frente à multidão

E logo depois sair cheio de seguranças pelos bastidores

Seu carro era uma Mercedes (Toda blindada)

Mas quem sou eu para julgar sua santidade?

Vi a justiça fazer de conta

Enquanto o crime era de verdade

Quem tinha que ajudar, tirou de quem não tinha

E ainda fez uma prece pelo roubo de cada dia

Vi o tiririca se eleger

E ainda ganhar votos

Vi a ficha ser limpa

Mas a realidade se manter suja

Vi o diabo jogar a própria filha pela janela

E depois chamá-la de anjo

Vi o ciúme tentando se justificar

Apos se passar por amor e matar a sua “amada”

Vi o Bush jogar um avião contra a própria pátria

E descobri que Hitler descende de negros

Vi um analfabeto guiar os meus caminhos

E ele ainda era corinthiano

Vi o Ronaldo cair e se levantar diversas vezes

E mesmo assim ser julgado pelo seu manequim

Vi o Corinthians finalmente ganhar seu estádio

E ainda ser palco principal da copa no Brasil

O padre estava certo, estou perdido

Sou um homem sem caminho

Ilhado em meio a horizontes de hipocrisia

Onde em cada caminho, tentam viver suas crenças em mim

Cada mente um universo, cada universo uma verdade

Uma constelação de contradições, perdidos na mesma realidade

E o fim é o mesmo para todos

2012

(Loucuras de Mili)