Eu sei, eu te disse, eu chego lá!

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Sou daqueles homens que tem uma franja de esperança no passado, uma boina velha e um quadro na parede, um resquício de paz e esperança pela batalha perdida.

Sonho com um velho pássaro cantor na minha janela de manhã, assim como nos áureos tempos de muita poesia e nada mais pra fazer.

Naquele país em que eu vivia, andei pelas ruas escuras e conhecia cada canto das cidades. Cidades incertas, sem luz, febris. Minhas memórias escorrem como numa arte surrealista.

Não morri hoje!

Nem morrerei amanhã!

E ainda levo no bolso um pedaço de papel com uma canção antiga, dos tempos de Old School; e o ofício de derivar passado em presente.

Eu sei, eu te disse, “eu chego lá!”.

Ainda da pra amar como quem perde o juízo. Perdi a boina e o passado, mas como vagabundo caprichoso dos horários noturnos não perdi o compasso.

E começo a suspeitar cada vez mais do velho em mim. Sem dom, qualidade ou qualquer coisa que chamem de carinhos de Deus, eu escreverei sonetos e serei sempre louco, demasiadamente perdido, e extraordinariamente humano e amante daquela que sabe segurar minha mão.

Talvez esse amor é permitido no escuro, nas canções, nos poemas, na rua, no passado, na cama, noutro país, no álcool, na vida, na morte, na noite.

Meditei noite a fora e percebi que amanhã de manhã vou acordar mais Bossa Nova do que hoje. Eu vou te levar pelo mundo, na minha cama barulhenta.

Meus ombros já são tão grandes que cabe passado, presente, futuro e nós dois. Esse tempo é que tem pressa pra viver.

Com boina nova, um inseto ardiloso em mim diz:

- Já não era sem tempo!

Eu sei, eu te disse, “eu chego lá!”.

- O tempo responde.

L Figueiredo
Enviado por L Figueiredo em 08/09/2010
Reeditado em 08/09/2010
Código do texto: T2486619
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