[Viagem Solitária]
Na solidão alheia — nem trisco mais!
Em outros tempos, fui temerário;
mas já paguei altos penhores,
sofri inundações, amolações,
pegajosidades, e tudo por me julgarem
apto a quebrar velhos muros... ou pior:
capaz de preencher tristes vazios
deixados por outros...
Bulir com a solidão alheia
é como libertar demônios;
a gente bem pode ter
que abraçar um deles...
Ou pior: vários, vários!
Solidão? Mal dou conta da minha!
Somos seres [disponíveis] para visitações,
e não para o sofrimento da posse:
olhar, admirar, sonhar, desejar,
e se possível, tocar, e até sentir...
Mas depois, é partir de mãos vazias,
pois é na partida que mais vige o ser!
E que remédio? Remédio nenhum, nenhum;
só partir... partir... partir sempre!
A vida é viagem sim — solitária!
[Penas do Desterro, 08 de setembro de 2010]