Poeta de Cera
E eu que não queria sentar e escrever
(objetos e vísceras ririam de mim)
Versos incorruptíveis entornariam da mente
E os éticos preconceitos murchos
Torrá-los-ia e moê-los-ia com minha insana ira;
Com pesares e nódulos, morreria mansinho
Sob a penteadeira do quarto
Com minha alma vazando.
Ter-me-iam de dar seus suplícios derradeiros
Com falsa e imensa fúria
Aos meus gélidos pés, um abrigo marmóreo;
Não caberia a minha alma em esquife comum
Trar-me-iam gerânios em vez de cravos
(fixar-me-ia em abraço simbiótico aos presentes)
Forneceria por meus mais polidos laços de afeto
Um espasmo de sorriso mórbido
(desses que fedem à parafina liquefeita).
Teriam, ao rés dos anos, migalhas intumescidas
A lançar no oceano das rasuras
(suas lisas fontes de espírito, e impuras);
Ah, vida erudita e mesquinha a pôr de lado meu verso!
Dá-me o acético do teu ósculo que irei à paz
Olvida-me os dias, rasgados a fio, em companhia das letras
Perquira os céus a encerrar-me consolo;
Certamente encontrará uma mesa, um lápis e um rascunho.