Poeta de Cera

E eu que não queria sentar e escrever

(objetos e vísceras ririam de mim)

Versos incorruptíveis entornariam da mente

E os éticos preconceitos murchos

Torrá-los-ia e moê-los-ia com minha insana ira;

Com pesares e nódulos, morreria mansinho

Sob a penteadeira do quarto

Com minha alma vazando.

Ter-me-iam de dar seus suplícios derradeiros

Com falsa e imensa fúria

Aos meus gélidos pés, um abrigo marmóreo;

Não caberia a minha alma em esquife comum

Trar-me-iam gerânios em vez de cravos

(fixar-me-ia em abraço simbiótico aos presentes)

Forneceria por meus mais polidos laços de afeto

Um espasmo de sorriso mórbido

(desses que fedem à parafina liquefeita).

Teriam, ao rés dos anos, migalhas intumescidas

A lançar no oceano das rasuras

(suas lisas fontes de espírito, e impuras);

Ah, vida erudita e mesquinha a pôr de lado meu verso!

Dá-me o acético do teu ósculo que irei à paz

Olvida-me os dias, rasgados a fio, em companhia das letras

Perquira os céus a encerrar-me consolo;

Certamente encontrará uma mesa, um lápis e um rascunho.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 23/09/2006
Reeditado em 17/04/2007
Código do texto: T247638
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