A TERRA É UM
PLANETA FEMININO
"Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil."
Leon Tolstoi
Flores silvestres, rosas cuidadas,
mulheres feitas, meninas- mulher,
em todas existe a lua transparecida,
o sol da paixão, a água cristalina
que refresca os pés do viajante solitário.
Somos todas criadoras de vida,
em nossas mamas verte um doce leite
purificador...
Somos regaço acolhedor, somos feras
em nossa natureza selvagem sufocada
por falsas amarras seculares.
Lobas famintas à procura de saciedade,
lobas suaves no aconchego do amor!
Vorazes bocas, alucinam em beijos
e suaves, tocam a testa dos enfermos,
Nas marcas que o tempo vai deixando
em nosso corpo como tatuagens,
constrói-se a grandeza de nossa história pessoal.
Somos mestras, amigas, companheiras de farra,
fêmeas nos cios que forjam novas vidas,
estremecimento e gozo, verdades contadas
nas esquinas, flores nos túmulos dos soldados,
lenços brancos nas estações vendo o trem partir.
´ Somos a mesa posta, a cama feita, o cheiro do
tempero nos fogões de outrora, somos saudade,
choro convulso e inexplicáveis sorrisos enigmáticos.
Evas condenadas por ignorância e prepotência,
numa bíblia forjada pra nos aprisionar,
queremos de volta nossa inocência de mulheres
selvagens,
de gatas com garras, de virgens dilaceradas,
pois a verdadeira fêmea é altiva e não se abate,
é guerreira e não vende seu corpo por migalha
ou mesmo toda a fortuna do mundo!
A verdadeira Eva transfigurada é dona
de sua vontade, luta de igual pra igual,
e não será jamais objeto do desrespeito
disputada pelos cães de rua, por
criaturas desprezíveis que a querem "liberta"
para acorrentá-la ainda mais.
Somos a Grande Criadora, o ser feminino
em cujo ventre crescem novos seres,
o grande arquétipo que subjaz nos escombros,
nas ruínas, no fundo dos rios e oceanos.
Somos janelas abertas , brisa marítima, ventos
e tempestades, somos a Grande Matrix ,
o Alfa e o Ômega, o fio da navalha, a onda
e o furacão, somos enfim a beleza, somos
o labirinto temido pelos invasores,
a doce ilha dos amores, o continente
a desbravar com cuidado, ternura e mãos castas.
Do nosso corpo faremos santuário,
e quem dele se aproximar, saberá que
reverência e amor serão as chaves
e que nunca terão de nós o mais doce fruto
se com força em nós fizerem morada.
Os nosso lábios são doces, mas a nossa ira
é pesada!
E território invadido, é zona de conflito:
choro, morte e tristeza.
Mas território conquistado será sempre
a celebração da alegria,
a certeza da continuidade da vida.
A Terra é um planeta feminino e este é
O Princípio Criador de todas as coisas...
Sejamos mulheres guerreiras,
de corpos nus à luz das fogueiras,
de danças e quadris em ritmos alucinados,
ouvindo a voz da nossa natureza oprimida,
cantando e dançando para nosso próprio prazer,
explodindo em madrugadas de brancas flores
e repousando nas auroras de corpos saciados,
junto ao companheiro que nos mereceu e nunca,
jamais,
acorrentadas ao mercador que nos comprou.
Publicado no Recanto das Letras em 06/09/2007
Código do texto: T641737
Código do texto: T641737
... e então resolvi reeditar este poema, escrito em 2007 e fiz questão de não retocar, mesmo que hoje talvez modificasse alguma coisa em alguma expressão, mas acho que retocar seria roubar algo do momento em que ele surgiu assim forte, vibrante, e hoje talvez eu já não tivesse esse entusiasmo ou veemência. O poema pronto não mais nos pertence, é uma verdade repetida sempre, e o poeta também depois de três anos, já não é o mesmo. Agradeço para quem leu até aqui.
Comentários
02-09-2010
- callíope
Mas eu sempre pensei assim e vejo Gaia tão linda,mesmo triste como tem estado agora.Mas Gaia não é só triste e linda...ela começa a arquitetar sua vingança como toda boa deusa que se preza...e saí de baixo!Vem chumbo grosso por aí!E eu digo mais,to do lado dela porque também sou Gaia!Sou deusa,mulher e poeta!Teu texto é de uma sensibilidade que merecia ser mais lido...Reedite!