[Meu Sol se Apaga]
No extenso areal,
o meu sol se apaga:
o que será feito da ideia
de meu ser atônito?
O meu sol se apaga,
o meu corpo se esmorece...
Apreendo o curso da morte
no bocado que apenas
perdeu o sabor antigo;
não vale mais nada...
Sobre certas memórias,
eu soube guardar o silêncio
que protegeu cobardias,
ou escondeu fraquezas.
Sobre certas memórias,
que mudariam o curso de rios,
eu ainda me calo...
A pena de tudo é sentir
na pele o sol que se apaga,
e concluir que o esforço
para desviver, para não ir,
não me deixou sequer
a moeda para dar a Caronte:
eu não vivi; eu desaconteci.
[Penas do Desterro, 02 de setembro de 2010]