Havia um tempo em que as palavras ainda eram selvagens
E de passagem arrancavam a grama dos meus sentimentos
E naquele tempo sei o quanto essas palavras eram vorazes
E devoravam-me incontroláveis todos esses esquecimentos
Havia um tempo em que essas palavras eram tão instintivas
E indistintas do calor tão insuportável dos piores momentos
E as palavras a seu tempo foram a tempo sempre insidiosas
E capciosas em ser caprichosas a me devorarem por dentro
As palavras que devoram sempre se fizeram tão misteriosas
E enganosas ou não sempre me tomaram assim desatento
Na curva perigosa desse meu mais atento e fiel pensamento
Ou na dúvida preguiçosa e maliciosa de qualquer meu intento
E as palavras conquistadoras sempre me fecharam num cerco
E me constituíram tão precariamente de tudo aquilo que perco
E reza a lenda que eu sou mais delas do que elas são minhas
De mim esse parco e pouco as palavras aprenderam sozinhas
...
Tanto que não imagino se o poeta se faz por suas palavras
Ou as palavras são criadoras e elas é que fazem os poetas
Muito provavelmente que nem uma e nem outra coisa são
Talvez a palavra e o poeta se confundam tanto no silêncio
Na mesma lida, no mesmo instante e sina de ser selvagem
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 27/08/2010
Reeditado em 04/08/2021
Código do texto: T2463090
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