Andei por aqui, pelos escombros das palavras
Quero recolher só as minhas, as mais cansadas
Essas aí são as minhas, as mais desacreditadas, talvez
Ou talvez as mais incompreendidas, pouco importa
Importa que não se acumulem muito nas entranhas
Vomitá-las, defecá-las, cuspi-las, regurgitá-las
Ah! Tanto faz, posto que já me alimentasse delas
Desde os meus mais tenros olhares para a realidade
Vou levar de vez minhas palavras todas para casa
E guardar naquele baú imenso de tralhas e trecos
Que eu sei que ninguém mexe muito lá mesmo...
Andei por aqui, atiraram-me palavras na cara
Pisotearam as minhas, me devolveram piores
E bem menores ainda do que elas eram
Eu poli as palavras para deixá-las novinhas em folha
Mas as que ficaram mais bonitas jogaram tudo fora
Agora minhas palavras são somente minhas...
 
E vou colecionar só palavras duras e grandes
“Paralelepípedo” é a minha preferida...
(Para entender de caminhos há que se saber das pedras...)
 
E o poeta mal sabe quem é...
 
O poeta tem que estar descalço,
Para saber onde põe os pés,
Para conhecer todas as marés,
Para nunca pisar em falso.
 
A poesia é um caminho de pedras entremeado
Ninguém sai incólume do embate com a poesia
Nem volta do voo distante sem estar cansado
E quem derrama dor em palavras, a vida esvazia
Mas essas mesmas palavras que tenho derramado
São as mesmas palavras que recolho no fim do dia...
 
 
(27/08/2010 – 10:26)
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 27/08/2010
Reeditado em 04/08/2021
Código do texto: T2462532
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