Agora a palavra fica fria, palavra morta, palavra vazia
Não é nem nunca vai ser a mesma coisa fora de mim
Não irradia nem a ínfima centelha que dentro trazia
Arredia, essa palavra vadia adia a emoção já tardia
Se antes era fogo que ardia num silêncio que angustia
Agora dá de ser escuridão nas horas do dia que fugia
E não diria da melancolia nem um terço do que devia
Nem traria o que me extasia no afã da fria poesia
A palavra sacudia significados e morria
E em sua morte era palavra que iludia
E não esconderia que para sair assim sangraria
Mas antes ousaria rir da minha grande euforia
E me acorrentaria por mil anos no que silencia
E a palavra estaria na ordem do dia: acedia...
Agora aqui esses poetas tão cheios de si mesmos
E ensimesmados de suas vãs tentativas de poesia
A poesia só vê o mundo e mundo nenhum ela cria
Mas que poetas somos que precisamos de deuses?
Vem aqui e olha o sangue na palavra desse poema
Vem aqui e olha que esta tristeza é sempre a mesma
A mesma minha, a mesma tua, a mesma de todos
Mas a poesia quer criar um mundo, cria fantasia
A fantasia da felicidade eterna, alguma salvação
Alguma coisa além da precária miséria da vida
Ser feliz ou não, que diferença faz? Dá-me o pão
Rir ou não, que diferença faz? Dá-me a mão
Estar satisfeito ou não, que diferença faz? Dá-me o não
Esses poetas de outras vidas, outros tempos, outros ventos
Buscando nessas palavras sangradas alento para sua dor
A sua dor, a sua dor, só a sua dor, apenas a sua dor, só a dor
Quer saber? Dói viver ainda que o sol brilhe e o dia seja lindo
Dói viver ainda que se disfarce essa dor em versos lindos
Esses poetas que buscam o ideal como coisa do real
Um deus que nos proteja porque somos filhos diletos
Esse deus que me olha de soslaio e boceja de desprezo
Agora essa poesia e esses poetas
Apontarão a ferida no meu peito e esconderão as suas
Apontarão a lágrima nos meus olhos disfarçando as suas
Achamos que somos poetas demais, verdadeiros demais,
E achamos essa beleza de sermos azuis demais...
Se esses poetas são filhos da santa, eu sou filho da outra!
(27/08/2010 – 00:11)
Não é nem nunca vai ser a mesma coisa fora de mim
Não irradia nem a ínfima centelha que dentro trazia
Arredia, essa palavra vadia adia a emoção já tardia
Se antes era fogo que ardia num silêncio que angustia
Agora dá de ser escuridão nas horas do dia que fugia
E não diria da melancolia nem um terço do que devia
Nem traria o que me extasia no afã da fria poesia
A palavra sacudia significados e morria
E em sua morte era palavra que iludia
E não esconderia que para sair assim sangraria
Mas antes ousaria rir da minha grande euforia
E me acorrentaria por mil anos no que silencia
E a palavra estaria na ordem do dia: acedia...
Agora aqui esses poetas tão cheios de si mesmos
E ensimesmados de suas vãs tentativas de poesia
A poesia só vê o mundo e mundo nenhum ela cria
Mas que poetas somos que precisamos de deuses?
Vem aqui e olha o sangue na palavra desse poema
Vem aqui e olha que esta tristeza é sempre a mesma
A mesma minha, a mesma tua, a mesma de todos
Mas a poesia quer criar um mundo, cria fantasia
A fantasia da felicidade eterna, alguma salvação
Alguma coisa além da precária miséria da vida
Ser feliz ou não, que diferença faz? Dá-me o pão
Rir ou não, que diferença faz? Dá-me a mão
Estar satisfeito ou não, que diferença faz? Dá-me o não
Esses poetas de outras vidas, outros tempos, outros ventos
Buscando nessas palavras sangradas alento para sua dor
A sua dor, a sua dor, só a sua dor, apenas a sua dor, só a dor
Quer saber? Dói viver ainda que o sol brilhe e o dia seja lindo
Dói viver ainda que se disfarce essa dor em versos lindos
Esses poetas que buscam o ideal como coisa do real
Um deus que nos proteja porque somos filhos diletos
Esse deus que me olha de soslaio e boceja de desprezo
Agora essa poesia e esses poetas
Apontarão a ferida no meu peito e esconderão as suas
Apontarão a lágrima nos meus olhos disfarçando as suas
Achamos que somos poetas demais, verdadeiros demais,
E achamos essa beleza de sermos azuis demais...
Se esses poetas são filhos da santa, eu sou filho da outra!
(27/08/2010 – 00:11)