A FÁBRICA DE TECIDOS.

A FÁBRICA DE TECIDOS.

Chagas, 04 de abril de 2010.

Durante várias gerações, foi o sustento de muitas famílias de operários. A “Fábrica de Tecidos” era a meta de boa parte da população de Camaragibe.

Toda construída em tijolo aparente possui uma arquitetura clássica dos velhos tempos coloniais.

Os arcos imponentes e os altos muros causam em quem olha a impressão de uma inexpugnável fortaleza.

O calçamento de paralelepípedos, o verde das árvores em harmonia com os desenhos da fachada, transforma a paisagem em um velho cartão postal.

Os fundadores desse considerável império de tecidos foram às famílias: Menezes, Collier, Machado, e Pereira Carneiro.

Na minha época de criança e adolescência o Presidente da Companhia era o Dr. Camilo Collier.

Cercada de uma vasta extensão de terreno, a Companhia Industrial Pernambucana, foi à mola mestra para o crescimento daquele povoamento, transformado atualmente em importante cidade.

A Rede Ferroviária possuía na época da fundação da fábrica até meados dos anos cinqüenta, uma linha férrea que fazia o percurso Recife / Limoeiro e passava por traz da fábrica onde deixava o algodão que era usado na confecção dos tecidos.

Havia também uma vila construída pelos donos da fábrica.

A vila operária permitia acomodações para centenas de famílias. Possuía mais de cento e cinqüenta casas, que foram se multiplicando ao longo dos anos.

Suas ruas principais eram largas e separadas por árvores ornamentais de grande porte e quando podadas a garotada ficava em festa e aproveitava para criar mil maneiras de divertimento.

Nasci, passei minha infância, minha juventude e só sai de Camaragibe, depois de casado. Morei na Rua Pierre Collier, nº. 445, no centro da vila operária.

Pequenos bairros cortavam a vila, entre eles se encontravam: a Baixa da Inocência, Alto da Boa Vista, Rua Grande, Alto do Cemitério, bairro novo, Aldeia de baixo e de Cima e outros.

Possuía dois açudes: o da Mata e o de São Bento, também conhecido como o da Rua que abastecia a fábrica de tecidos.

Em dias de Semana Santa, a comporta do açude de São Bento era aberta,e os peixes ficavam presos nas poças de água, desta maneira os operários conseguiam pescá-los e o jejum religioso estava garantido.

Trabalhei naquela fábrica nos anos sessenta. Naquela ocasião quem administrava era o Dr.António Carlos de Menezes, homem de pulso forte e dotado de vasta experiência administrativa.

Existiam ainda familiares dos antigos donos.

O senhor Carlos Alberto e sua esposa Dona Marina, que tinham dois filhos: Pierre o mais velho e Charlot o mais novo. Fui até a casa deles que ficava na Volta da Sucupira no início da ladeira, levado pelo primo Bianor filho. Dona Lilia irmã de Carlos Alberto, muito contribuiu com os operários levando o SESI até a vila.

Entre as seções que faziam parte da estrutura de trabalho da fábrica, se encontravam: a preparação, o batedor, as cardas, a fiação, a urdideira, a flaneladeira, a tecelagem, a engomadeira, a sala do pano e outras.

Minha função era de apontador. Eu anotava toda a produção dos fiadores e dos trabalhadores das urdideiras.

Lembro-me com saudade de algumas pessoas que ali trabalharam. O primo Bianor era o contador. João Pereira era chefe da seção de pessoal, junto com a prima Sônia.

Dona Rosa trabalhava comigo, seu Amadeu, um português, era nosso chefe e mestre da fiação, Zé bocão e Coió eram fiadores, Zefinha de Sólon, uma bonita morena, trabalhava na urdideira, seu Badú e tantos outros.

Havia dois clubes de futebol com suas respectivas sedes sociais: o Guarani e o Penarol, onde os bailes acalentavam nossos sonhos juvenis. Foi no Guarani onde conheci minha querida Ivone, que veio a ser a mãe de meus filhos, Kleber, Saulo e Eric.

Banhos de rios e de queda dágua também faziam parte do pequeno turismo da vila.

O escritório da Companhia tinha uma monumental entrada com um grande hall, no qual se encontrava uma escada que dava acesso à parte administrativa, toda feita em ferro. Corredores amplos e imensos circundavam toda a extensão do patrimônio. Em outro prédio do lado direito ficava a oficina.

Nos horários de entrada e saída das turmas, a fábrica emitia um grande sinal sonoro, conhecido por todos como “o apito da fábrica de tecidos”. Era um silvo longo e forte e se fazia ouvir a quilômetros de distância, produzido pelas caldeiras possantes que impulsionavam algumas partes da fábrica.

Os donos da fábrica, católicos extremosos,trouxeram da França as irmãs da Sagrada Família e os irmãos Maristas que se ocuparam da educação dos filhos dos operários.

Minha mãe Dona Nina como era conhecida, foi professora da escola da Corporação Operária e minha primeira mestra.

Minha madrinha Aderita e sua irmã Duquinha, também foram minhas professoras. Elas me ajudaram a dar os primeiros passos na educação escolar.

O imponente prédio da antiga Fabrica de Tecidos, ainda continua de pé no mesmo local de sua construção. Algumas pessoas daquele tempo ainda existem. Só os anos passaram.

Hoje já estou com sessenta e três anos de idade, e muita coisa modificou.

O cajueiro do pátio da festa de natal, já não mais existe. A igreja do Sagrado Coração também foi demolida.

Era edificada dentro da fábrica; foi lá onde fui batizado, onde fiz minha primeira comunhão. Lembro-me de alguns padres que por lá passaram: Leonardo, Bonifácio, Chaves, Ribamar que fez meu primeiro casamento na capela das irmãs, e alguns outros.

O açude de São Bento está completamente vazio.

As serenatas acompanhadas pelos violões de João de Deus, Alcides, Artur, Amaro no tam-tam e Zé da barra no pandeiro, já não mais são ouvidas nas madrugadas.

Os amigos de infância: Renato Maia, Rivaldo Lira, Dinaldo Mesquita, Marcos Guerra, Chavão, Nildo, Antonio Costa e alguns mais, todos se dispersaram.

As namoradinhas, Zilda, Lea, Etiene, Zefinha e tantas outras, ficaram no passado.

Todos os meses, sempre que posso, volto por lá.

Meus olhos se tornam brilhantes como outrora, ao rever as pessoas e a paisagem.

Os anos vividos em Camaragibe foram os mais felizes de minha vida

As lembranças da “Fábrica de Tecidos” tomam conta de uma boa parte de meu ser.

Minha avó Maria, minhas tias Neném e Celé, tio Nezinho e tia Nena sua esposa, minha mãe Nina, meu irmão Carlinhos e Lula, os primos Bianor,Valter,Lenira, Isla, Sônia, Carminha,Telma, Zé Marcos, Paulo Fernando, Zezinho, Cecinha, Lurdinha, Telma, Cristina, Marisa, Chobé, Teté, Cristina de Bianor, Malu, Sandra, Valderese, Valtinho, Rosicler, meu padrinho Arnaldo Guerra, foram e serão figuras queridas que se encontram gravadas na minha história e em meu coração.

Espero encontrá-los em uma nova Camaragibe. Em outra “Fábrica de Tecidos”, comandada por um novo e grande ADMINISTRADOR. Onde as ruas serão de ouro, jaspe e de puro cristal. Onde os rios emanam leite e mel. Ai então estaremos todos reunidos e nunca mais haverá separação.

Chagaspires
Enviado por Chagaspires em 26/08/2010
Reeditado em 10/04/2021
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