A CASA DA ÁRVORE
A CASA DA ÁRVORE.
Chagaspires.
Era uma enorme árvore. Nasceu no quintal da casa e há várias décadas fazia parte da nossa família.
O pé de manga-rosa ficava ao lado do tanque de lavar roupas.
De copa frondosa e tendo um tronco de grande espessura que dificultava a subida; o pé de manga-rosa era um atrativo para a criançada.
Suas folhas grandes tinham várias finalidades. Quando colocadas em certa quantidade no travesseiro, causavam um sono profundo em quem tinha dificuldade para dormir. Cortadas pelas crianças, e ajeitada, as folhas tomavam as mais variadas formas que serviam de entretenimentos.
Seus frutos davam água na boca. De grande tamanho e de um colorido bastante peculiar, a manga-rosa tinha a carne macia e um sabor doce irresistível.
Em certa ocasião pesei um daqueles frutos, tendo dado como resultado mais ou menos, um quilo. Posso afirmar que não é estória de pescador.
Como resultado dos meus sobes e descem, nas épocas de colheitas, conseguia um bom dinheirinho com a venda dos frutos na vizinhança.
De uma altura bem maior dos que os do sua espécime, o pé de manga-rosa possuía uns vinte metros de altura.
Foi em um de seus galhos mais altos que construí o que chamei de “casa da árvore”.
Toda feita com tábuas velhas, ela contava com um piso e uma proteção lateral nos quatros lados, que transmitia uma maior sensação de segurança. Para lá levei alguns objetos de meu particular interesse. Um pião, um velho binóculo, algumas revistas ( entre elas de mulher pelada), papel e lápis coloridos e outras bugigangas. Era meu lugar secreto.
Costumava passar longas horas olhando o vôo dos urubus. Pareciam planadores ao sabor do vento e no seu lá e cá provocavam uma sensação de liberdade que me fazia divagar pela imensidão fértil da mente curiosa de adolescente.
O vento impulsionava os galhos do pé de manga que no seu balançar constante pareciam o ir e vir de uma rede. Várias vezes adormeci e só despertei com os gritos insistentes de minha mãe, que desesperada chamava pelo meu nome.
O velho binóculo servia para perscrutar o horizonte e de vez em quando algum vulto feminino que passava com seus trejeitos sensuais, despertando o homem escondido no interior da criança inocente.
Escondi o quanto pude aquele local íntimo.
Quando meus dois irmãos descobriram a casa da árvore, passei a enfrentar uma invasão a minha intimidade e foi com pesar que pouco tempo depois destruí aquilo que pensava ser de minha propriedade.
As lembranças da “casa da árvore”,trazem-me recordações agradáveis e profundas.
As sensações descobertas, as situações inusitadas, os momentos de alegria, as insatisfações, e todo conhecimento adquirido lá em cima, serviram para edificar uma sólida e consistente nova “casa da árvore” dentro do meu próprio ser e que permanecerá comigo durante todo restante de minha existência.