Passos diários
Nessa tarde de inverno, onde o sol queima nossa pele e o vento vadio carrega muitos cheiros, as crianças se arrumam para o colégio, e os senhores discutem alguma coisa sobre política, pois é época de eleição. O vai e vem de propagandas enfadonhas estressam até os pobres vira-latas no abandono das ruas.
Um rapaz galopa calmamente, sobre esse chão de pedregulhos da Rua São Sebastião, seu corpo balança ao mesmo ritmo das ancas gorda da égua, questiono-me meu Deus como os pobres têm feições rudes, olho-me no espelho é verdade.
Tarde calorosa de inverno, sim, pois aqui o sol reina em todas as estações como um eterno verão de suores, as flores? Pouquíssimas flores silvestres há também rosas em alguns quintais. O que se vê cotidianamente são pescadores com seu remo nos ombros, seu passo largo, levam consigo a esperança de uma boa pescaria numa noite clara. E tão quanto importantes são elas, suas mulheres de semblante rude e temperamento bravo, lutam com garra (inconscientemente) contra esse impiedoso inimigo o tempo.
As crianças correm na várzea atrás de bons ventos para suas pipas, viram de quando em quando o olhar para a mãe, que o reclama do sol que esta “alto”.
Mas eles não houvem, como se estivessem hipnotizados pela beleza do vôo de sua pipa e enlaçados pela brisa que o acaricia voluptuosamente as carnes.
Agora os deveres me chamam, essa vida de narrar os passos alheios, rouba-me o tempo, já se vai o sol no poente, o vento noturno que levar-me a folha.
Luk Ramos