Envelhecendo
É preciso envelhecer
Para ter as mãos mais expressivas e o rosto mais sereno.
Mais tranqüilo o corpo e mais acolhedor o colo.
As mulheres mais velhas devem usar esmalte cor de rosa e brincos de flor, vestir casaco de tricô e viver em casas, nunca em apartamentos. As portas devem estar sempre abertas, para que os passantes sintam o perfume dos bolos e das rendas, na limpeza dos sabonetes suaves e das tardes calmas, sentadas à mesa do café. Visitas e conversas longas e lentas. Risos e palavras doces distribuindo o acúmulo dos anos.
A casa da mulher mais velha é o lar de todos os filhos. Os dela e os de ninguém. Porque existe muita orfandade nos olhos de todos.
Ela não mais se ocupa com desejos, com aflições. Ela vive os dias que lhe são dados pela manhã, sem promessas de futuro. Ela apenas os acolhe, assim como acolhe os amigos e os netos.
Ela, de uma ideia vaga e geral, vai se tornando palpável. Está aqui ao meu lado, preparando surpresas e encantos. Ouço sua voz, percebo seus movimentos imprecisos, sinto sua atmosfera. Ela é tão presente em mim quanto a alma do mundo em tudo.
Ela sou eu. Agora não há dúvida alguma.