Agora acho de voltar,
Como quem volta dos mortos,
Ou de uma terra desconhecida,
E bem distante...
Cansado de tantas partidas
E dilacerado pela dor das distâncias.
E eu bem que poderia ir para bem longe,
Mas lugar algum nunca foi longe o bastante
Que não suscitasse essa vontade de voltar...
Eu não vi a vida a minha volta desabrochar
Eu estava sempre de partida...
 
E volto um estrangeiro,
Com a sede de outros rios,
As emoções de outras tardes
E luares de outras noites
E essa vontade de ventos fortes
E novos na renovada fome insaciável
E insustentável pelas tempestades...
 
Trago olhares em que me desconheço
Pensamentos em que me desconjunto
Trago silêncios de estranhamentos,
Quietude arisca de um animal selvagem,
Trago agora em mim um olhar tão afoito
E tão afeito em mudar as paisagens.
Trago em mim todas as paisagens,
Que no afã de mudá-las fui mudado por elas
E mais que mudado, eu volto cru e mudo
De desperdiçar gritos em fins de tardes
Inválido por malbaratar os meus passos
De errar nos descaminhos a cata de pouco
De pouco mais do que migalhas do destino
E trago esse desatino de partir (como um vício)
Um inútil sacrifício a nenhuma divindade
Fazer de cada passo da partida um malefício
E de cada passo da volta uma precariedade
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 23/08/2010
Reeditado em 04/08/2021
Código do texto: T2454964
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