Preliminares:
Sou este mesmo! Não, não... Este não!
Sou aquele... Não, não! O outro...
Este não! Aquele outro...
Sim, ali mais distante...
Não! Mais... Mais... Mais!

Subliminares:
Agora eu nem sei
Atrapalhou-me um som de violino
Luz do sol passando por uma fresta
Distraiu-me esse ventar bem suave
Assim em sincronia com o violino
Fui lá olhar o silêncio das árvores
Queria muito mais janelas
Mais janelas para o domingo
Há ainda pássaros por aqui
Distraindo-me o silêncio
Ah! E este cheiro de incenso
Também me distraiu o pensamento
Cada pequena coisa ali na estante
Vem de um lugar e de um tempo, distante...
Ali os poetas... Ali os pintores...
Nas outras estantes, os pensadores...
E aqui os atores e os tantos cantores
Isto tudo nem é quem e o que eu sou
(Mas como pode ser isto tudo tão meu?)
Tarde quente... fui distrair um olhar para o céu
Quando a noite vier estarei mais atento
De olhar e pensamento...

Posteridades:
Lembra da luz do sol na fresta
Vento em sincronia com violino
Das árvores tão silenciosas
Dos olhares tantos à janela
(Mas janelas de domingo...)
O céu das tardes quentes
Tardes lentas e preguiçosas
Livros sobre a mesa
Ah! E este cheiro no ar... incenso!
Tudo eu deixo
Os sons, a luz, os ventos
Palavras nos cadernos
E esses olhares eternos
(Para as coisas elas mesmas...)
Quando eu me for, não levarei nada
Levarei apenas os meus rastros da estrada
E levarei também todo este meu silêncio...

(Poesia On Line, em 22/08/2010)
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 22/08/2010
Reeditado em 05/08/2021
Código do texto: T2452659
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