Outra e outra vez
Pretendia que fosse menos efêmero desta vez, pra não dizer eterno. Que uma alegriazinha fraca, míuda que fosse, pudesse entrar nos outros cantos da casa vazia. Esperava que houvessem algumas demonstrações de afeto. Talvez algumas palavras, ao menos algumas palavras diferentes das que vinham, das que insistiam em lembrar do quanto era apenas aquilo. E aquilo já não era mais bom, não poderia ser mais somente aquilo. A menos que se sacrificássem sonhos, desejos, carinhos, beijos e palavras doces. Como a princípio tentou-se, mas doía, mas não era bom, não era o bastante pra completar os espaços frios de um sentimento quente, presente. Sacrificou-se, no entanto, muitos destes elementos tidos como insignificantes diante das novas relações e das novas descobertas, cobertas pela euforia do momento, pelo gosto de construir a imagem que se quer: sem memórias, sem máculas, sem pecados e perdões, sem feridas ainda abertas, sem sensações ainda despertas. Traduzo tal atitude no sentido literal da covardia! Pois, é melhor estar onde não se é cobrado nada, não se é necessário concertar nada, nada precisa ser colado, reconstruído, recomposto: O novo é menos trabalhoso e, para alguns, mais prazeroso. Não se pretende agradar aos que já perdoaram a podridão, mas sim os que não desconfiam dela. Não se sorri aos que choraram, não se cuida, não se doa, não se interessa, não se lembra, não se sacrifica. Jamais! Os covardes preferem apresentar uma nova imagem a reconstruir a antiga, é menos trabalhoso e menos arriscado.
Pois bem, é assim que aquilo acabou, na sombra de uma novidade, quando percebeu-se que nenhum sacrifício mais valeria a pena, pois simplismente não havia mais pelo que sacrificar-se. Não se sente o perfume das flores mortas!