AOS TRABALHADORES

E jazem sobre os insepultos horrendos seres

Não flores nem tão pouco saudações

Porque em vida nada salutar realizaram

Ao contrário da ganância fizeram suspeitas obras.

Ignoram a autoridade do tempo

Que não perdoa nem rei e seus congêneres

Esses dirigindo ao inadiável encontro

Com ela não poderão negociar

Como em vida desse hábito se fizeram monge.

E já às portas do desconhecido terreno

Nem Ovídio o mais dos misteres poetas

Recepcionará tão abjetas figuras

Porque se não têm o brilho de Dante

Não pela falta dos versos imortais

Mas tão somente porque não se dá boas vindas

Às almas corrompidas pelo deus Pluto.

E uivando quais lobos à noite nebulosa

Não serão ouvidos nem pelos antigos serviçais

Porque tendo já cumprido enfadonha jornada

A outro ocupando o trono cobiçado estarão

E do antigo nada restará senão torpes lembranças.

E outros tantos que sofreram o escárnio daqueles que se vão

Assistirão a passagem do esquife sem esquecer o que à pele sentiram

Nada dirão porque sabem que têm com o que fica

Novas lutas renovadas e sucessivamente, essa é a sina

Dos trabalhadores de agora e de tempos idos e vindouros.

Aos trabalhadores meus gritos de satisfação darei

Não por vingança daquele que se foi

Mas porque nós trabalhadores sempre estaremos aqui.