eu & os homens do bem e do mal
Sexta-feira de folga. Bermuda, pólo, chinelos, tirei o dia pra pagar as contas no Centro. Bancos, loja aqui, loja ali, dinheiro vai & dinheiro vai. Enfim, parei prum chope. Dois, enquanto via passar o arsenal feminino enfeitando a Rua das Flores. Aí desanimei com as rugas e com a pança criada, pois a mulherada desviava, colando olhos num bombado, tatuado, da mesa ao lado. Então decidi que iria embora a pé, começando vida nova, buscando a forma perdida. E logo, lá estava eu, na canaleta dos ônibus, ou invadindo a ciclovia. E, empolgadaço, assoviava, meio besta.
Anoitecia e eu cansava. Quis desistir e tomar o ônibus, mas na Estação Viaduto Capanema, descobri que não me sobraram mais que centavos. Eis que podia ser o destino, quem sabe, os deuses também me querendo saudável. Assim reencontrei forças e persisti. A canseira havia passado. E já me sonhava esbelto, cheio de músculos rodeados por garotas e mais garotas. Talvez com um dragão, tatuado nas costas.
Quase na metade da viagem, n'altura do Jardim Botânico, surgiu um rapaz pedalando um caroço de freio de pé, me seguindo, devagarinho. Como o caroço, o rapaz também era muito feio, o bigode parecia disfarce de banguela. Tentei andar mais rápido, mas um dos chinelos arrebentou. O ciclista era mesmo um assaltante. Dois, o outro desescondeu-se do mato assim que o primeiro me abordou. E ele era ainda mais feio, canivete na mão, nariz quase no queixo:
- E aí? Tem um vale-transporte pra me arrumá?
Peguei a carteira e mostrei o vazio:
- Olha, amigo, (amigo? como sou burro!) não tenho nada não. Tanto que estou voltando a pé da cidade.
Estou duro, duro.
O segundo bandido baixou o canivete:
- Foi mau. Paramo o cara errado, meu...
E eu tentando consertar o chinelo. De repente veio esta:
- Pô, não qué um troco pra pegá o bonde?
- Não, não, que é isso...
- É perigoso aqui de noite, carinha. Nóis samo marginal, mais samo uns marginal do bem. Vai que você cruza com uns lôco mal intencionado aí. A gente te dá umas moeda.
- Não, obrigado, eu..
- Ô, Cônio, (Cônio?) dá uns dois real pro cara!
- Não, por favor...
- Nota miúda só tenho de dez, Zé.
- Dá essa mesmo pra ele.
- Não, eu já disse que não precisa, que é isso..
E o Zé puxou minha mão, pondo nela a cédula de dez...
- Pega. Aproveita que hoje nóis tamo abonado, ô carinha. Fizémo os borso duns bóizinho, no Jardim Dazamé, tamo mandando bem na fita. Pega o buzum, não fica marcando aí na rua, cara, vai, vai vazando, vai aí.
- Cuidado, piazão, juízo, maluco! – disse o Zé.
- Falou! - o Cônio, pedalando, o Zé tentando pular no bagageiro.
E, ignorando os alertas, prossegui na caminhada. Até encontrar um bar, já perto de casa. Lá, torrei, em três cervejas e meia-pinga, o dinheiro ganho dos bandidos, comemorando a sorte, ou seja lá, e as eventuais calorias perdidas.
Sexta-feira de folga. Bermuda, pólo, chinelos, tirei o dia pra pagar as contas no Centro. Bancos, loja aqui, loja ali, dinheiro vai & dinheiro vai. Enfim, parei prum chope. Dois, enquanto via passar o arsenal feminino enfeitando a Rua das Flores. Aí desanimei com as rugas e com a pança criada, pois a mulherada desviava, colando olhos num bombado, tatuado, da mesa ao lado. Então decidi que iria embora a pé, começando vida nova, buscando a forma perdida. E logo, lá estava eu, na canaleta dos ônibus, ou invadindo a ciclovia. E, empolgadaço, assoviava, meio besta.
Anoitecia e eu cansava. Quis desistir e tomar o ônibus, mas na Estação Viaduto Capanema, descobri que não me sobraram mais que centavos. Eis que podia ser o destino, quem sabe, os deuses também me querendo saudável. Assim reencontrei forças e persisti. A canseira havia passado. E já me sonhava esbelto, cheio de músculos rodeados por garotas e mais garotas. Talvez com um dragão, tatuado nas costas.
Quase na metade da viagem, n'altura do Jardim Botânico, surgiu um rapaz pedalando um caroço de freio de pé, me seguindo, devagarinho. Como o caroço, o rapaz também era muito feio, o bigode parecia disfarce de banguela. Tentei andar mais rápido, mas um dos chinelos arrebentou. O ciclista era mesmo um assaltante. Dois, o outro desescondeu-se do mato assim que o primeiro me abordou. E ele era ainda mais feio, canivete na mão, nariz quase no queixo:
- E aí? Tem um vale-transporte pra me arrumá?
Peguei a carteira e mostrei o vazio:
- Olha, amigo, (amigo? como sou burro!) não tenho nada não. Tanto que estou voltando a pé da cidade.
Estou duro, duro.
O segundo bandido baixou o canivete:
- Foi mau. Paramo o cara errado, meu...
E eu tentando consertar o chinelo. De repente veio esta:
- Pô, não qué um troco pra pegá o bonde?
- Não, não, que é isso...
- É perigoso aqui de noite, carinha. Nóis samo marginal, mais samo uns marginal do bem. Vai que você cruza com uns lôco mal intencionado aí. A gente te dá umas moeda.
- Não, obrigado, eu..
- Ô, Cônio, (Cônio?) dá uns dois real pro cara!
- Não, por favor...
- Nota miúda só tenho de dez, Zé.
- Dá essa mesmo pra ele.
- Não, eu já disse que não precisa, que é isso..
E o Zé puxou minha mão, pondo nela a cédula de dez...
- Pega. Aproveita que hoje nóis tamo abonado, ô carinha. Fizémo os borso duns bóizinho, no Jardim Dazamé, tamo mandando bem na fita. Pega o buzum, não fica marcando aí na rua, cara, vai, vai vazando, vai aí.
- Cuidado, piazão, juízo, maluco! – disse o Zé.
- Falou! - o Cônio, pedalando, o Zé tentando pular no bagageiro.
E, ignorando os alertas, prossegui na caminhada. Até encontrar um bar, já perto de casa. Lá, torrei, em três cervejas e meia-pinga, o dinheiro ganho dos bandidos, comemorando a sorte, ou seja lá, e as eventuais calorias perdidas.
22/12/2001