Pode ser que eu chova palavras inúteis
E relampeje olhares vazios ao nada
Pode ser que avalanche meus escombros
E suporte nos ombros o que não posso conjugar
Deve ser porque eu amanheça cedo demais
E tarde demais para ser tarde eu entardeça
Mas sei sempre anoitecer na hora oportuna
E pode ser que eu não madrugue verdade nenhuma
Em nenhuma poesia que em mim talvez floresça
E pode ser até que um dia eu ao menos esqueça
Tudo aquilo que em vão eu palavreei em versos
E me cale somente para perpetuar mais o silêncio
E eternizar desconhecer meandros dos sentimentos
Para enterrar bem fundo no peito os ressentimentos
Todos os ressentimentos que sei não são meus
Nem talvez os pressentimentos do que nem fui
E nunca mais serei qualquer coisa que seja ou valha
Quando for capaz de conjugar toda essa quietude
Silenciar o que é silêncio, aquietar o que é quietude
E não jogar a culpa toda nessas pobres palavras
Nessas tristes e desajeitadas palavras
Que agora se aquietam, e silenciam absortas
A chama do fogo imenso desse horrível grito
Um fogo a arder na escuridão pura do silêncio
Mas agora não, não, não agora, agora não
Agora eu tenho que me incendiar...


(Poesia On Line, em 15/08/2010)
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 15/08/2010
Reeditado em 05/08/2021
Código do texto: T2439384
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