ENTRE CATARSES...
De todas as catarses adquiridas ao longo de sua vida, aquela, sem sombra de dúvida, fora a que mais lhe dera trabalho para ser, finalmente, liberada. Custara a entender o porquê de as pessoas se transformarem, da noite para o dia, e a razão de elas apenas pensarem em suas dores, esquecendo-se de que as dores são divididas, igualmente, entre aqueles que se procuram. Sempre que ouvia alguém dizer que estava sofrendo por um amor desfeito, sempre que via o choro descompassado de alguém que não se conformava com a partida do amor, ele também se perguntava se tudo aquilo não era, na verdade, o arrependimento por não ter conseguido manter viva a chama da paixão e, por isso mesmo, para não pôr a culpa em si, e em sua má gestão sentimental, transferia responsabilidades para quem, com certeza, lhe dera – e muito – o que ela acabara de perder. Por isso, para ele, a sua culpa – quando se tratava do amor – era a culpa de quem sempre procurara doar-se por inteiro. Nunca deixara de proporcionar o mínimo de carinho, de atenção, de segurança, de amizade e de companheirismo, em suas idas e vindas, justamente para não despertar conflitos antagônicos de pensares e de sentimentos nocivos ao sentimento maior - causa, para muitos, de posteriores desavenças de interesses emocionais. Talvez, pelo fato de ser adepto do “o tempo cura todas as feridas”, tenha se calado diante de tantas maldades feitas, de tantos desaforos recebidos, de tantas palavras descabidas, desconexas, arbitrárias, que lhe feriram a alma quase que diariamente. Suportara, mesmo sabendo que poderia, facilmente, desvendar a maioria das mentiras ditas envolvendo seu nome. Mas não fez nada que fosse contrário ao seu pensamento sobre a cicatrização das feridas. Mesmo porque, dilacerar ainda mais a sua alma e ficar se perguntando como poderia provar a sua inocência era, para ele, no mínimo, muito triste, pois a pessoa que mais lhe amara não lhe dera o direito de ser acreditado em suas primeiras palavras. Então, de que lhe adiantaria argumentar que havia uma rede de intrigas a lhe condenar? Mas, com isso, pagara um alto preço. Saíra arranhado em sua imagem, em seu caráter, em sua personalidade tão bem construída ao longo dos tempos. Interiormente, sorrira tristemente. Que ironia do destino! Fora massacrado por quem havia lhe prometido não lhe fazer o mal. Já tinha olhado várias vezes para o passado, já havia recordado esse mesmo passado e, por incrível que pudesse parecer, nele, o que mais lhe chamara a atenção tinham sido as ofensas recebidas. Não que ele não se lembrasse dos bons momentos. Não era isso. Lembrava sim. Porém, para não parecer mesquinho em seus sentimentos, separara o joio do trigo e dera às lembranças um caráter oficial, sem perder-se em devaneios, nem procurar, na saudade, motivos para perdoar o que ainda lhe queimava a alma. Sabia que ainda iria demorar muito para poder expurgar, de vez, as mazelas que o seu coração enviara para a sua alma. Agora, apenas estava conseguindo começar a expô-la para o seu corpo. As marcas, em todas as partes físicas, ainda eram visíveis. Os sulcos ao redor dos olhos e da boca não tinham a aparência descontraída de quem vivia nadando em felicidade. O seu peito ainda arfava, todas as vezes em que precisava puxar o ar com mais força, pois se lembrava das chicotadas dadas, à queima-roupa, sem chances de defesa. Por outro lado, o fato de estar podendo se confessar já era o primeiro sinal de que, um dia, ainda ia poder caminhar, sem medo, por trilhas simples do amor. Entretanto, sabia, de antemão, que jamais se deixaria enganar pelas sutilezas empregadas por quem apenas brincara com o brinquedo mais caro, e que, quando o vira começar a se quebrar, não tivera a humildade de levá-lo para o conserto e, lá, dar-lhe o tratamento necessário para a sua restauração. Por fim, catarses são pensares que, reprimidos dentro de cada um, só aumentam a necessidade de um dia poder desabafar e, com isso, aliviar o estado emocional em que se encontram. Mas, no fim, sempre fica uma pergunta relacionada às coisas do coração: por que será que, quando há uma separação, a culpa é sempre do homem?
Obs. Imagem da internet
De todas as catarses adquiridas ao longo de sua vida, aquela, sem sombra de dúvida, fora a que mais lhe dera trabalho para ser, finalmente, liberada. Custara a entender o porquê de as pessoas se transformarem, da noite para o dia, e a razão de elas apenas pensarem em suas dores, esquecendo-se de que as dores são divididas, igualmente, entre aqueles que se procuram. Sempre que ouvia alguém dizer que estava sofrendo por um amor desfeito, sempre que via o choro descompassado de alguém que não se conformava com a partida do amor, ele também se perguntava se tudo aquilo não era, na verdade, o arrependimento por não ter conseguido manter viva a chama da paixão e, por isso mesmo, para não pôr a culpa em si, e em sua má gestão sentimental, transferia responsabilidades para quem, com certeza, lhe dera – e muito – o que ela acabara de perder. Por isso, para ele, a sua culpa – quando se tratava do amor – era a culpa de quem sempre procurara doar-se por inteiro. Nunca deixara de proporcionar o mínimo de carinho, de atenção, de segurança, de amizade e de companheirismo, em suas idas e vindas, justamente para não despertar conflitos antagônicos de pensares e de sentimentos nocivos ao sentimento maior - causa, para muitos, de posteriores desavenças de interesses emocionais. Talvez, pelo fato de ser adepto do “o tempo cura todas as feridas”, tenha se calado diante de tantas maldades feitas, de tantos desaforos recebidos, de tantas palavras descabidas, desconexas, arbitrárias, que lhe feriram a alma quase que diariamente. Suportara, mesmo sabendo que poderia, facilmente, desvendar a maioria das mentiras ditas envolvendo seu nome. Mas não fez nada que fosse contrário ao seu pensamento sobre a cicatrização das feridas. Mesmo porque, dilacerar ainda mais a sua alma e ficar se perguntando como poderia provar a sua inocência era, para ele, no mínimo, muito triste, pois a pessoa que mais lhe amara não lhe dera o direito de ser acreditado em suas primeiras palavras. Então, de que lhe adiantaria argumentar que havia uma rede de intrigas a lhe condenar? Mas, com isso, pagara um alto preço. Saíra arranhado em sua imagem, em seu caráter, em sua personalidade tão bem construída ao longo dos tempos. Interiormente, sorrira tristemente. Que ironia do destino! Fora massacrado por quem havia lhe prometido não lhe fazer o mal. Já tinha olhado várias vezes para o passado, já havia recordado esse mesmo passado e, por incrível que pudesse parecer, nele, o que mais lhe chamara a atenção tinham sido as ofensas recebidas. Não que ele não se lembrasse dos bons momentos. Não era isso. Lembrava sim. Porém, para não parecer mesquinho em seus sentimentos, separara o joio do trigo e dera às lembranças um caráter oficial, sem perder-se em devaneios, nem procurar, na saudade, motivos para perdoar o que ainda lhe queimava a alma. Sabia que ainda iria demorar muito para poder expurgar, de vez, as mazelas que o seu coração enviara para a sua alma. Agora, apenas estava conseguindo começar a expô-la para o seu corpo. As marcas, em todas as partes físicas, ainda eram visíveis. Os sulcos ao redor dos olhos e da boca não tinham a aparência descontraída de quem vivia nadando em felicidade. O seu peito ainda arfava, todas as vezes em que precisava puxar o ar com mais força, pois se lembrava das chicotadas dadas, à queima-roupa, sem chances de defesa. Por outro lado, o fato de estar podendo se confessar já era o primeiro sinal de que, um dia, ainda ia poder caminhar, sem medo, por trilhas simples do amor. Entretanto, sabia, de antemão, que jamais se deixaria enganar pelas sutilezas empregadas por quem apenas brincara com o brinquedo mais caro, e que, quando o vira começar a se quebrar, não tivera a humildade de levá-lo para o conserto e, lá, dar-lhe o tratamento necessário para a sua restauração. Por fim, catarses são pensares que, reprimidos dentro de cada um, só aumentam a necessidade de um dia poder desabafar e, com isso, aliviar o estado emocional em que se encontram. Mas, no fim, sempre fica uma pergunta relacionada às coisas do coração: por que será que, quando há uma separação, a culpa é sempre do homem?
Obs. Imagem da internet