migalhas




     Lino's Bar, apesar da roda de samba, mas quebrada com My Sweet Lord, e a presença dos chapas Félix, Wallace, Rôni e Pier. O orelhão tocava sem parar, alguém buscando alguém. Alô? E a garota, de 21 anos, disse, cismou, que esse alguém era eu. Tentava parecer mais especial do que, dizia odiar o dia e prezar solidão, café, cigarros e Cabala. Até afirmava que meu nome seria Acaiah. O pretensioso ar de mistério foi se desfazendo conforme ela desentristecia, às bobagens que eu falava. Depois de uma hora, passou um número, pedindo que eu ligasse mais tarde, a cobrar, se quisesse. Não liguei, pois logo em seguida, encontrei uma mala de viagem, quando descia a Alameda Cabral. Na mala, estavam alguns pertences, bíblia, calendário, uma agenda quase vazia, tudo de um andarilho chamado Firmino, nascido em 1931. Também, um pequeno caderno onde ele poetava ou preparava uma nova versão do Gênesis, acrescida do niilismo.

- Firmino, me perdoe. Deixei a bolsa a esmo numa esquina qualquer que possa lhe devolver. Creio que nem estava perdida e te ignorei dormindo na calçada. Li, que em suas andanças, descobrira que a vida é uma mentira e que os deuses lhe deram a pobreza e um pão de nome fome. Espero que saiba o quanto é forte, pois na idade que tem, vivendo sem idade e quase sem nome, morrendo o que pensa, o senhor só pode ser um grande homem.

Sem ofensa.




 
7/12/2001
Lucas de Meira
Enviado por Lucas de Meira em 14/08/2010
Reeditado em 26/05/2014
Código do texto: T2437062
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