... bordado a lágrimas.

Era Primavera, e as suas mãos ninhos perfumavam as pétalas brancas, de cambraia fina, de um lenço virgem. Era Primavera, a sua mão abriu-se em flor, e o lenço caíu

ao sabor do vento.

O vento galante desdobrou-lhe os vincos, cruzou-lhe a trama, penetrou-lhe a urdidura, içou-o a bel-prazer, e beijou-lhe as fímbrias delicadas, como se o lenço

fosse sua pertença.

Mas, flor já desfolhada, de uso e desuso, murchou o perfume, manchou a brancura, no lenço um dia entretecido

de perfumada esperança.

Ainda nem era Verão, e o vento já devolvendo o lenço, a exigir frescuras impossíveis, bordados difíceis, custosas rendas, exímios primores

às mãos despojadas.

Há um morrer para viver, em cada amor que nidifica. Um abnegar espontâneo, para que a Primavera regresse sem medos. Ou faltas, ou pétalas para tecer

lenços inocentes.

E dos espinhos das rosas se fazem agulhas, de um fio de fé se fiam as linhas, dos restos do lenço se colhe a textura, do resto da cor se lava a brancura. E nas suas mãos, mais que nunca ninhos, desabrocha, em arte, um lenço puríssimo ...