Alter(ego)

Ultimamente tive tanto medo da vida, ou melhor, do tédio, do que ainda não fiz.

Não quero me apressar em viver nada, quero cada sensação, sentir cada detalhe, experimentar cada sentimento, amar a possibilidade no tempo necessário de amar, recuperando na potencialidade de viver, o novo.

Só não quero ter medo, mesmo que seja de não ter medo de ter medo. Não quero planejar mais minhas ilusões, hoje sei que posso ver o que não via ontem, e assim cresço ganhando o amanhã e perdendo o agora a cada segundo.

O tédio me assombra, o que deveria ter feito e não fiz talvez seja o meu maior arrependimento, mas às vezes a vida nos priva, nos embarreira descortinando nossos limites.

Mas cotidiano à cotidiano me devora, me eleva a humanização me educando e tornando-me aprendiz de mim mesmo. E ao ir ganhando meu espaço na humanidade, sem excluir seus excessos, vícios, nos mostra seus paradoxos, anatomizando o ser para aproximar do controle absoluto do que liga o claro ao escuro, onde cabe suas fronteiras, até quando um se anula para o outro acontecer.

E porque penso que penso em mim, penso que descobri um eu. E dessa forma, me parindo, penso que posso mudar a circunstância que se ausenta a cada inspirar meu. Penso que posso mudar o reticente, reconhecendo que algo muda em mim.

Às vezes esqueço que hoje, agora, não sou garantia de vida, da minha vida, apenas guarneço um pouco do espaço como um apêndice que me liga as minhas crenças, construídas e inacabadas sobre o que sei da minha incerteza.

Agora não quero pensar que penso, não desejo nada além de escrever algo nesse papel com as luzes do meu quarto apagadas. Não sei o que acontece com o outro que está lá fora, esse outro dentro de um plural de alheios. Sei que amo inteiramente um ele, que não depende somente dele para ser amado. E despindo-me da minha solidão, me entrego a outra combinação de afetos cruzados no tempo, para serem pontuados e silenciados, correspondidos ou não, como ordem natural da vida.

A vida humana é um diálogo tentando autenticidade em cada brevidade assoprada e expirada.

Fellipe de Sousa
Enviado por Fellipe de Sousa em 12/08/2010
Reeditado em 19/03/2011
Código do texto: T2433992
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