Não sei de quem são aquelas cabeças de vaca que pastam tranquilamente, fazendo parte do quadro dessa paisagem bela que passa na velocidade do pensamento ou da acuidade do olhar.
Nem sei a quem pertencem esses inumeráveis hectares de cana pronta para o corte, confinados no sem fim de uma cerca onipresente.
Tem sórdidas sutilezas o capitalismo. Pense, por exempo, em estâncias hidrominerais e em pedreiras. Pois é! Como já dizia a minha avó, meu filho, hoje em dia se vende até água e pedra...
Enquanto se vislumbra de passagem a paisagem, aquele que mais fervorosamente acredita exclama como seria bom a gente ser capaz de apreciar toda a beleza que Deus nos deu. Eu, que bem sei que de poeta e de cético todo mundo tem um pouco,sigo a dizer que a mim basta a nítida impressão de poder gozar a beleza que tudo tem.
E teimo em inverter os tais ditos populares, pois para mim o diabo fez o mundo e Deus foi quem colocou as cercas.
Estrada é um troço gozado. Tinha tanto mato e terra por aqui, árvores totalmente livres. Daí cortaram as árvores, aplainaram a terra, colocaram pedras, asfalto e ficou isso tudo muito caro a perder de vista só para eu passar agora de carro. A gente vai mas volta, a estrada não é e nunca foi como a vida.
Eu acho Deus um sujeito muito ocupado. Às vezes o imagino assim como umm executivo de Wall Street, aplicando na bolsa, auferindo todos os lucros de sua obra. Ou outras vezes o imagino em férias eternas, depois de ter concluído sua única e principal obra. Terceirizou o funcionamento de tudo pelo Universo.
A vida, o universo, o mundo, a realidade... Nãoo tenho nada contra Deus. Tenho somente a coragem de imaginar que, depois de tudo feito e pronto, Deus goza eternas férias e não tem nada a ver com isso. E nem quer.
O resto, das vacas pastando até as estradas, o resto é tudo conosco.
(Poesia On Line, em São José do Rio Preto, em 11/08/2010)