ESCREVER. NECESSIDADE BENDITA!

Lamento a cada dia não ter começado a escrever antes.

Agora é o dia-a-dia, o pouco a pouco, que me paralisa...

As palavras escritas bem poderiam ser outras:

Mais coesas e arejadas; muitíssimo mais precisas;

O português empregado nelas poderia ser castiço;

Os versos poderiam, com maior prática, ser melodiosos,

Consonantes a real emoção das chegadas, das despedidas;

Antenados com as sensações, com a exata intenção...

Bastaria, lá atrás, ter conferido a devida atenção

Às vozes solapadas de meu interior submergido...

Ah, lamento cada dia de minha vida!

O pouco que entendo de mim devo às turras letras paridas

Advindas do miolo desta minha esquisita convulsão.

Deve estar na falta de muitas letras o grosso do que me ignoro,

Todo este meu espocar da cabeça nas paredes, sem rendição...

Cada textinho é uma bela escapulida para minha muda boca aflita

Que se retrata, convertida, pela bastarda flama da escrita

Hoje, escrever não me é mais um abrigo antibombas...

Escrever redundou em guerra fria, contra-espionagem dissimulada

Não é mais desejo ou escape, é uma horrípila necessidade bendita!