NUNCA PUDE CRESCER
Nunca pude crescer...
Tenho o tamanho do que vejo.
Não sou maior nem menor do que ninguém.
Cada um é do tamanho do olhar de cada um.
O quanto vejo é quanto sou.
Sou a minha inocência... E ela se torna séria
A cada espanto que sinto.
Nunca pude crescer...
Parei ao pé da porta
E ouvi a música do mundo
O eco dos sinos,
O riso dos cínicos...
Sou a minha inocência...
Nunca pude crescer...
Não quero ser criança; simplesmente nunca pude deixar de ser;
Não aprendi, não me ensinaram.
Querem me ensinar a ser maduro, mas todos já apodreceram...
E eu continuei aqui onde estou: errado e infantil!
Levando discórdia onde houver paz,
Porque a discórdia da infância é mais bela e mais sincera que a paz
Da adultice...
Levando trevas onde houver luz,
Porque as trevas na infância são para fazer peraltices:
Brincar de pique, de papai e mamãe, mexer com os outros,
Sentir um medinho gostoso;
A luz na adultice está cada dia mais cara e mais triste...
Levando ofensa onde houver união,
Porque a ofensa da infância sempre gera grandes amizades, quase eternas;
A união da adultice gera divórcios litigiosos...
Nunca pude crescer...
Não consigo rir baixo,
Não gosto de papai Noel nem de presente (ambos são coisas de adulto);
O presente da infância é o abraço negado,
A virada de cara,
O tapa,
O abraço dado, apertado,
A cabeça encostada no ombro,
O adormecer confiante,
A indiscrição que não é fofoca...
Nunca pude crescer...
Se crescimento é vitória,
Sou um fracassado.
Aliás, nem isso eu sou porque eu nunca tentei!
Sou o meu perdão...