Pais e filhos, a eterna dicotomia entre o antes e o depois que convive muitíssimo bem no amor. Amor incondicional, sem tirar nem por. Amor por amor, entre partes que se conhecem desde o começo de todo o começo.
Não sei que pai eu sou, mas sou o pai que sei. E saber ser significa ser o suficiente sempre, e mais do que isso sempre que necessário. E, muito além disso, ser mesmo quando nem é mais necessário.
Ganhei almoço feito pelo filho, café feito pela filha. Ganhei presentes, os meus preferidos. Ganhei livros, dois deles, dos grandes e bons. Um dicionário de filosofia, para eu ficar ainda mais metido a besta quando disser que sei o que é ataraxia ou silogismo. Outro de poesia, poeta francês, edição bilingue, minha leitura dos próximos dias.
Meu filho mostrou-me que aprende programação básica para fazer sites. Fingi que entendi tudo, mas ele sabe que não entendi nada, mas prestei uma atenção danada. Agora há na casa um cavaquinho, um violão tão pequeno que minha mão nem cabe nele. Teve doce de leite depois do almoço, empadão, feito por ele, orgulhoso desse dote culinário.
Com a filha teve conversa, aquelas coisas todas sobre todas as coisas, a vida, os estudos, poesia. Pediu-me para indicar o que ler, adiantei logo Cecília, Quintana e Drumond, para o começo, vai devagar passando por Neruda, Vinícius, Pessoa e Lorca. Depois vem outros tantos.
O filho foi ver a namorada, volta aos estudos, retoma-os, precisa de um par de tênis e de um caderno, além de um teclado novo para o computador.
A filha retorna ao conservatório musical, para mais quinze dias de aulas de música, muito mais fácil para mim de ouvir do que de fazer. Combinamos idas ao MASP e à Pinacoteca, além de ouvir canto gregoriano no Mosteiro de São Bento. O namorado dela parece aprender que sou um sogro e tanto, filosofemos ainda muito sobre isso, quando deixarem. Ainda lhe devo explicações pormenorizadas do que seja conhecimento a priori e a posteriori.
Não diria que foi um dia solene. Solenes são sempre esses reencontros, essas proximidades e distâncias. Aliás, distância nenhuma, trago comigo o muito que levam de mim, por minha culpa, minha máxima culpa.
Continuo não fazendo a mínima ideia de que pai eu sou, pois cuido de ser o pai que sei, o que aprendi e amo tanto ser, o que sempre quis ser.
E agora paira ainda no ar a perplexidade de uns versos soltos de Quintana: “... para que eu vos ame tanto assim (…) é que expressais alguma coisa minha só para mim!”
(Poesia On Line, em 08/08/2010)
Não sei que pai eu sou, mas sou o pai que sei. E saber ser significa ser o suficiente sempre, e mais do que isso sempre que necessário. E, muito além disso, ser mesmo quando nem é mais necessário.
Ganhei almoço feito pelo filho, café feito pela filha. Ganhei presentes, os meus preferidos. Ganhei livros, dois deles, dos grandes e bons. Um dicionário de filosofia, para eu ficar ainda mais metido a besta quando disser que sei o que é ataraxia ou silogismo. Outro de poesia, poeta francês, edição bilingue, minha leitura dos próximos dias.
Meu filho mostrou-me que aprende programação básica para fazer sites. Fingi que entendi tudo, mas ele sabe que não entendi nada, mas prestei uma atenção danada. Agora há na casa um cavaquinho, um violão tão pequeno que minha mão nem cabe nele. Teve doce de leite depois do almoço, empadão, feito por ele, orgulhoso desse dote culinário.
Com a filha teve conversa, aquelas coisas todas sobre todas as coisas, a vida, os estudos, poesia. Pediu-me para indicar o que ler, adiantei logo Cecília, Quintana e Drumond, para o começo, vai devagar passando por Neruda, Vinícius, Pessoa e Lorca. Depois vem outros tantos.
O filho foi ver a namorada, volta aos estudos, retoma-os, precisa de um par de tênis e de um caderno, além de um teclado novo para o computador.
A filha retorna ao conservatório musical, para mais quinze dias de aulas de música, muito mais fácil para mim de ouvir do que de fazer. Combinamos idas ao MASP e à Pinacoteca, além de ouvir canto gregoriano no Mosteiro de São Bento. O namorado dela parece aprender que sou um sogro e tanto, filosofemos ainda muito sobre isso, quando deixarem. Ainda lhe devo explicações pormenorizadas do que seja conhecimento a priori e a posteriori.
Não diria que foi um dia solene. Solenes são sempre esses reencontros, essas proximidades e distâncias. Aliás, distância nenhuma, trago comigo o muito que levam de mim, por minha culpa, minha máxima culpa.
Continuo não fazendo a mínima ideia de que pai eu sou, pois cuido de ser o pai que sei, o que aprendi e amo tanto ser, o que sempre quis ser.
E agora paira ainda no ar a perplexidade de uns versos soltos de Quintana: “... para que eu vos ame tanto assim (…) é que expressais alguma coisa minha só para mim!”
(Poesia On Line, em 08/08/2010)