Considerações sobre o tempo

Algumas vezes me ponho a refletir sobre a ação do tempo em nossa

existência e vejo que estamos tão à mercê dele que dificilmente analisamos se o seu papel é de herói ou vilão. Na infância e adolescência, parece que o tempo demora demais a passar, os sonhos que tanto queremos que se realizem parecem estar a uma distância infinita. Mas ainda podemos brincar, nos divertir, pois a vida está apenas começando e temos pela frente todo o tempo do mundo.

O futuro é só esperança.

Com o passar dos dias, quando chegamos à idade adulta, e as realizações são menores do que esperávamos, o tempo parece se encolher, os anos se tornam menores, nos torturamos por algo que não fizemos e ainda pretendemos fazer quando tivermos tempo. Dar atenção à família, aos amigos, ou simplesmente desacelerar o ritmo diário passam a ser perda de tempo. Como se pudéssemos recuperar um único segundo que já foi, corremos loucamente atrás do tempo perdido, continuamos a depositar todas as expectativas no futuro, muitas vezes desejamos esquecer o passado, e chegamos a ignorar o presente.

O tempo é ambíguo.

Nós mulheres recebemos de bom grado as benesses do tempo se queremos adotar um novo corte de cabelo, ou mesmo deixá-lo mais longo, mas nos desesperamos ao perceber os primeiros fios brancos,

nítida marca da ação destruidora do tempo. Pior ainda é encontrar no rosto as "linhas do tempo", as marcas de expressão, que poderiam significar apenas experiência de vida, maturidade, mas revelam

a aproximação da velhice e do inexorável fim da estrada. O mesmo escritor sagrado que diz haver tempo apropriado para todo o propósito, também aconselha ao homem aproveitar bem os dias da mocidade, pois chegará o dia em que tudo será apenas enfado e cansaço.

O tempo é cruel.

Há épocas em que um redemoinho passa sobre nossas vidas, varrendo tudo ao nosso redor, movendo os alicerces sobre os quais nos equilibrávamos, nos deixando imersos em uma espessa nuvem

de poeira. O que nos acalma, coloca novamente nossas ideias em ordem e nossos pés firmados no chão é somente o tempo. Toda aquela poeira, folhas secas e detritos misturam-se às lágrimas que derramamos e se transforma em pedra, que utilizamos para colocar sobre as feridas, estancar a dor, encobrir o que ficou exposto contra a nossa vontade. E assim a pedra passa a fazer parte de nós, a nos acompanhar dia após dia. Uma pedra forjada pelo tempo, que sob sua aparente dureza, esconde a imensa fragilidade das nossas emoções. Removida, permitirá que a angústia se aflore, que jorre de novo a dor contida.

O tempo não cura, mascara.

O que ontem foi alegria, hoje é aborrecimento, e amanhã desejamos que não se repita; ontem esperança, hoje frustração, amanhã lembrança ruim; ontem encantamento, hoje realidade, amanhã desilusão; ontem botão, hoje rosa, amanhã pétalas murchas; Tudo são ondas em um constante ir e vir, nunca iguais, mas sempre semelhantes, inevitavelmente modificadas pelo tempo.

Assim poderia se fazer inúmeras considerações sobre o tempo e nossas tentativas de tirar proveito dele, ou de impedir sua ação desastrosa, mas talvez isto não represente nada mais que desperdiçá-lo, então encerro com esta bela reflexão de Shakespeare:

O tempo é muito lento para os que esperam

Muito rápido para os que tem medo

Muito longo para os que lamentam

Muito curto para os que festejam

Mas, para os que amam, o tempo é eterno.