[O Tempo dos Teus Olhos]
Vem de longe, bem longe este sentimento que me invade agora. Nada mais conta, tudo ficou de fora, a vida é toda contida aí; podia mesmo até acabar na duração deste instante, e ainda assim, estaria completa! Diante de mim, nesta brecha de tempo que nos une, tu te sentas devagar, e me olhas assim, num laço de ternura, abraçando-me com os olhos... o enlace de nossas mãos tem vida própria; ávidas mãos que buscam, percorrem... tateiam... buscam...
Quebra o nosso silêncio apenas esse ruído quase imperceptível de tuas vestes. Eu te vejo chegar, assim, e o meu mundo inteira-se no teu - nada me falta! A tua figura encharca o mata-borrão do meu olhar, e penso... ah, quem, quem no mundo é tão louco que não pára, e fica, no gume do instante, a ouvir o ruído das vestes da mulher amada quando ela chega... ah, deliciar-se com cheiro que vem no arrasto do ar dessa chegada tão especial, única!
Sabe... descobri agora - olha só: o tempo da tua chegada, o tempo em que estou, é castanho... está todinho no castanho dos teus olhos!
[Penas do Desterro, 06 de agosto de 2010]