Conversas com meu pai...
Meu pai, quanta saudade de tuas grandes mãos
Que seguravam as minhas que eram tão pequenas!...
Saudade de tuas risadas gostosas
E das tuas brincadeiras...
Dos teus momentos sérios
Onde teus olhos falavam
Com firmeza e brandura...
Saudade de tuas orações junto à minha cama...
De tua voz, pois já acordavas cantando,
E de teus joelhos machucados
De tanto ficarem em oração...
Saudade dos teus silêncios...
Saudades do “Eu te amo, minha bonequinha!”...
“Boneca vem cá!” – Lembras, era assim que me chamavas?!
...Das rosas que me davas no Dia da Mulher...
...Da tua bênção, quando já adulta,
E eu te beijava a mão aonde quer que eu te encontrasse!
Saudades... Tantas!...
Das lágrimas choradas no teu colo
E do teu lenço branco que, com suavidade,
Secavas cada uma... E tu dizias:
“O paizinho está aqui!”- “Deus proverá!”...
Saudade de quando disseste ao meu primeiro namorado
E grande amor de minha vida,
Quando eu tinha dezesseis anos: “Tá bem! Tá tudo bem!”...
Saudade de quando fui para o Hospital
E assististe a cirurgia que levou 12h
E não arredaste o pé dali
Sofrendo e rezando...
E porque quando acordei da anestesia,
Estavas ao meu lado... Com um sorriso
E me disseste: “Foi bem! Graças a Deus foi tudo bem!”
Lembras pai, que quando eu tinha seis anos
E não queria ir para a escola,
Tu me pegaste no colo
E me disseste muito sério:
-“Minha filha tens que estudar para ter uma profissão
E, quando cresceres, ser independente
Financeiramente!...
Já vi muitas senhoras
Sofrerem com seus maridos
E, por não terem como se sustentar,
Ter de agüentar enormes sofrimentos...”
-Tu eras Profeta, pai? Adivinhavas o futuro??...
Bendita lição de amor... E isto lá em 1958!...
Foste meu companheiro e confidente!
Foste também meu confessor...
E, no leito de morte, disseste:
“Eu te amo... Mas me promete uma coisa:
Sai desta “cidade” e vai para “aquela”! Prometes?”...
E assim fiz, sem entender por que.
...Hoje eu entendo...
Eu não te vejo, pai, mas te sinto como um Anjo
À minha volta, a zelar por mim...
Sinto o perfume que usavas da água de barba,
Sempre o mesmo: English Lavander!
Como foste meu amigo, pai!
E... Às vezes, como discutíamos!
E tu me provocavas para me ensinar a argumentar!...
A herança que me deixaste é eterna: tua Fé e teu Exemplo...
E eu procuro caminhar nas tuas pisadas...
E procuro jamais esquecer
O que tu dizias: que, para ti,
Um dos piores pecados é a ingratidão!
“Porque é um pecado contra o Amor” – dizias!
E tuas últimas palavras foram:
“Pai a Ti entrego o meu espírito!” E
“Obrigado, Doutor”...
Assim era meu pai! Bondoso e firme.
Defendia seus pontos de vista com bravura e coragem...
Enfrentava o mundo se assim fosse preciso!
...Mas era o homem que levava violetas à minha mãe
Em todos os “Dia dos Namorados!”
Tenho muito mais coisas a dizer... E as direi
Quando as lágrimas de saudade deixarem de rolar...
- Obrigada, pai...
Principalmente porque me ensinaste
A crer no “outro Pai...”
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Meu pai faleceu em Bagé, em 1º de abril de 2001.
Hoje, no Oriente Etermo, repousa entre as Acácias em flor...