Auto da Paixão
Soprávamos resto de escórias marcadas
Sob o oco teto da lua fingida;
Éramos tapioca e geleira
Espermatozóide e pejo;
Sentíamos o outro como se aprecia figos
Peças soltas, pela metade, passavam por nós;
À luz do lampião, sacolejavam fugazes colchetes
Cegos e intensos, potentemente catastróficos;
O chão raspava ardido como a barba no colarinho
E o rio, de fininho, comia as águas da mansidão;
Assumíamos a autarquia da decisão
E imputávamos na lajota dos sorrisos, pérolas;
À riba, subia o moço de calção com destemperos tais
Fruto e escravo de dons geniais;
Enquanto o frio, rasgando o estro do anoitecer
Cedia-nos de volta o pejo, a célula e a paixão.