Auto da Paixão

Soprávamos resto de escórias marcadas

Sob o oco teto da lua fingida;

Éramos tapioca e geleira

Espermatozóide e pejo;

Sentíamos o outro como se aprecia figos

Peças soltas, pela metade, passavam por nós;

À luz do lampião, sacolejavam fugazes colchetes

Cegos e intensos, potentemente catastróficos;

O chão raspava ardido como a barba no colarinho

E o rio, de fininho, comia as águas da mansidão;

Assumíamos a autarquia da decisão

E imputávamos na lajota dos sorrisos, pérolas;

À riba, subia o moço de calção com destemperos tais

Fruto e escravo de dons geniais;

Enquanto o frio, rasgando o estro do anoitecer

Cedia-nos de volta o pejo, a célula e a paixão.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 16/09/2006
Reeditado em 29/04/2007
Código do texto: T241896
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