CONJECTURAS DE UM TEMPO

Nos idos de noventa e dois nos conhecemos e sem muitos arrodeios em pouco tempo já morávamos juntos. A diferença de idade (eu mais moça ele mais velho), não foi impeditivo pois nem nos dávamos ao luxo de fazer planos. Somente íamos no balanço da vida, que nos era confortável sem muita ambição.

O tempo passou na velocidade do cometa e de uma lua para outra tudo se transformou, financeiramente nos roubaram da forma mais grosseira, mesmo assim ficamos com o necessário para se ter um vida dígna. O que mais de primoroso que se perdeu pelas pancadas da vida, foi o domínio do cérebro no acometimento da demência. Ficou um olhar perdido no vazio, um sorriso amarelo e também uma coragem de cuidar até que o grande mestre permita. Nesse instante em que os filhos querem tomar posse dessa vida como se fosse um mero objeto, meu coração sangra e as lágrimas me afogam. Apesar de maritalmente não existir nada entre nós, o sentimento e o afeto me fazem transpor tantos obstáculos, até mesmo os da dúvida na própria existência. São tantos os questionamentos, quem sou eu nessa lâmina do tempo? Qual a lógica para essa violação de sentimentos, que necessariamente não estão nos clichês sociais? Há momentos de total desânimo e outros em que sou capaz de escalar o mais alto cânion. Estou sempre refazendo as minhas conjecturas, se a minha visão está imune à contaminação dos males que assolam a humanidade realmente eu não sei explicar. O que sei é que sempre procuro trilhar minha vida dentro da linha da dignidade e da honestidade. Da fé invisível, porém extremadamente necessária.