Desnecessárias catarses II
(Outro poema para todos e para ninguém)
I
Esse olhar renitente no espelho
Monstruoso sempre me vejo
Desconheço todos os medos
Meus segredos inúteis rasgados
Deserto necessário no interior
De onde de mim mesmo nada ensejo
De dentro? Só abismos e desertos
Dentro é tudo assim tão ermo
Sem meias palavras nem meio termo
Vazio imenso que mais se esvazia
Silêncio eternizado no tempo
Tempo, tampo, tento, tanto, tateio
Um olhar tão pleno para a escuridão
Vivo, viro, voejo, vislumbro, vazio
Reviro migalhas pelo chão
Vaguear, vagueio, vagueando em vão
Em meu vôo errante repouso
Num pouso ousado na imensidão
Desconheço esse olhar e esse espelho
Desconheço o grito, o surto, o susto
O impulso, o pulo, a pele, o pão
Que o diabo amassa de graça
E vende na rua, no beco, na praça
Aos que se alimentam de ilusão
II
Esqueça, feneço, esqueço, feneça
Aquieta essa dor dentro do peito
Deixa, sinto, sei, sorvo, sirvo, mereço
Deixa não feito o que foi desfeito
O imperfeito do jeito perfeito de não ser
Apodrecer, parecer, padecer, desaparecer
Fito, fato, feito, fuga, fábula, forma, fora
Foram-se forças formas fáceis favar feio
Ficaram somente a tristeza e a solidão
Das horas mais difíceis das madrugadas
Das tardes tão ensolaradas de então
Ficaram somente eu, o céu e o chão
Os passos nunca dados na estrada
O rosto, o resto, o rastro, o não
O dito, o rito, o mito, o escrito
A letra trêmula a sangrar na mão
A manchar a visão mais que branca
No branco papel de toda a emoção
Não sei, não sai, não sara, não cai, não para
Agora lá fora eu sou só solidão
Sou filho dessa madrugada
E amanheço deserto e desolação
Espalhando o que resta pelas estradas
III
Dor, alguma dor, a dor, por favor!
Algum sabor saber se sal ou sol
Alguma luz de saber sobreviver
Alguma palavra que se sabe vã
Alguma veleidade ou vicissitude
O que nos ilude é esse não saber
O não ser sabido ser tudo em vão
Pés que se alimentam de chão
Meus céus nem cinza nem azuis
De tão distantes que são
Para fora todos os fantasmas!
Os monstros todos, para fora!
Os medos no campo de batalha
As emoções tão fora de hora
Que vistam exuberante mortalha
Tudo além, tudo bem, não agora
A dança no fio da navalha
Tanta vontade que vai embora
Mas não agora nesse agora
Ainda é hora no lá fora
Para fora rubores e clamores
E as lágrimas flamejantes
Ouvi a morte rufar os tambores
Já é amanhã de nada como antes
(Outro poema para todos e para ninguém)
I
Esse olhar renitente no espelho
Monstruoso sempre me vejo
Desconheço todos os medos
Meus segredos inúteis rasgados
Deserto necessário no interior
De onde de mim mesmo nada ensejo
De dentro? Só abismos e desertos
Dentro é tudo assim tão ermo
Sem meias palavras nem meio termo
Vazio imenso que mais se esvazia
Silêncio eternizado no tempo
Tempo, tampo, tento, tanto, tateio
Um olhar tão pleno para a escuridão
Vivo, viro, voejo, vislumbro, vazio
Reviro migalhas pelo chão
Vaguear, vagueio, vagueando em vão
Em meu vôo errante repouso
Num pouso ousado na imensidão
Desconheço esse olhar e esse espelho
Desconheço o grito, o surto, o susto
O impulso, o pulo, a pele, o pão
Que o diabo amassa de graça
E vende na rua, no beco, na praça
Aos que se alimentam de ilusão
II
Esqueça, feneço, esqueço, feneça
Aquieta essa dor dentro do peito
Deixa, sinto, sei, sorvo, sirvo, mereço
Deixa não feito o que foi desfeito
O imperfeito do jeito perfeito de não ser
Apodrecer, parecer, padecer, desaparecer
Fito, fato, feito, fuga, fábula, forma, fora
Foram-se forças formas fáceis favar feio
Ficaram somente a tristeza e a solidão
Das horas mais difíceis das madrugadas
Das tardes tão ensolaradas de então
Ficaram somente eu, o céu e o chão
Os passos nunca dados na estrada
O rosto, o resto, o rastro, o não
O dito, o rito, o mito, o escrito
A letra trêmula a sangrar na mão
A manchar a visão mais que branca
No branco papel de toda a emoção
Não sei, não sai, não sara, não cai, não para
Agora lá fora eu sou só solidão
Sou filho dessa madrugada
E amanheço deserto e desolação
Espalhando o que resta pelas estradas
III
Dor, alguma dor, a dor, por favor!
Algum sabor saber se sal ou sol
Alguma luz de saber sobreviver
Alguma palavra que se sabe vã
Alguma veleidade ou vicissitude
O que nos ilude é esse não saber
O não ser sabido ser tudo em vão
Pés que se alimentam de chão
Meus céus nem cinza nem azuis
De tão distantes que são
Para fora todos os fantasmas!
Os monstros todos, para fora!
Os medos no campo de batalha
As emoções tão fora de hora
Que vistam exuberante mortalha
Tudo além, tudo bem, não agora
A dança no fio da navalha
Tanta vontade que vai embora
Mas não agora nesse agora
Ainda é hora no lá fora
Para fora rubores e clamores
E as lágrimas flamejantes
Ouvi a morte rufar os tambores
Já é amanhã de nada como antes