Lexicógrafo
Embriagar-me-ei de palavras. Farei com que as frases tenham o mesmo efeito alucinógeno dos ácidos, de forma que eu abandone o mundo da matéria, atravesse o mundo das ideias e chegue por fim no universo das palavras soltas e da metalinguagem. Degustarei cada palavra e não me sentirei saciado até que eu desvende os mistérios de todas elas.
Buscar sentido nas coisas? Inútil, pois coisas em si não têm sentido, mas só a ideia por trás delas. Ainda assim nossas ideias, aquelas que fazemos das coisas, são errôneas e não fazem o menor sentido. Há razão apenas nos amontoados de letras aos quais chamamos "palavras". Razão muito mais ininteligível e acima de nossa capacidade humana.
Viajarei sozinho ao Reino das Palavras, onde cada uma delas enche um livro inteiro; onde cada sentença é uma porta para um universo a ser explorado.
Ah, palavras... Serão elas minha espada e meu escudo; elas meu veneno e meu remédio; elas meu dia e minha noite; elas meu mestre, meu exemplo e minha meta. Meu passado jaz num campo de palavras e meu futuro é esperado junto a um berço de palavras.
Quando morrer, serei lembrado pelo seguinte epitáfio: "Aqui descansa aquele que amou as palavras; junto a elas viveu, com elas brincou, por elas morreu".
Pois no princípio era a Palavra, e ela se fez carne.
Fez-se carne para que toda carne pudesse um dia ser Palavra.
Marcel Gustavo Alvarenga
16/07/2010