Aborto
Como o vento abstrato
que ninguém vê mas sente
Eu assanho o fogo de paixões ardentes
Sem mesmo perceber
Um riso fingido esconde o perigo
De alguém que quer dominar
Sentindo-se magoado
Talvez até culpado
De ser responsável por alguém
Que não sente frio ou calor
Que nunca viu o sol
E nunca sofreu uma dor
Ou sequer sentiu amor
De um sorriso sem dentes
E um corpo que não chegou a ficar quente
Em um coração que não bomba sangue nenhum
De olhos tão lindos e mente brilhante
Que já se ofuscou, antes de acender
Não sei se é um anjo
Não sei se é um ser
Não sei se tem vida
Responsável por algo que antes de formado
Já está considerado morto
Mesmo sem querer eu fui pai de um aborto.