A seca no meu sertão
Meu nome é Severino!
A minha idade eu não conheço não!
Aqui não tem nenhum papel escrito
que comprove a existência de alguém.
Aqui é o cu do mundo!
O inferno, se é que realmente existe,
ele começa por aqui.
Aqui a gente sofre viu seu moço!
Aqui a gente sofre de tudo quanto é coisa!
Aqui a gente sofre de fome, sofre de sede,
sofre de medo e sofre de abandono!
Aqui nada vinga!
A única coisa que vinga aqui é o sol!
Ele vinga da gente todo dia.
Ele queima, ele machuca, ele estropia!
A vida aqui é igual ao pó.
O vento vem arranca dali, carrega pra lá,
daqui a pouco virou coisa que passou.
Com o bicho homem é a mesma coisa.
O cabra morre ali, é enterrado acolá,
daqui a pouco ninguém se “alembra” mais.
Também se “alembrá” do que?
O nada nunca teve existência!
E o que nunca teve existência
nunca haverá de ter consciência!
Mas da mãe eu me “alembro” bem.
Morreu de sofrimento, tadinha!
Sofrimento de tanto ver os “fios” sofrer!
Aqui a gente sofre viu seu moço!
Só Deus sabe o quanto a gente sofre!
Eu não tenho mais nada para falar não.
A minha vida é só isso aí.
Toda ela feita de desgraceira.
A minha e a de todo mundo
que mora neste cafundó dos Judas.
Vidas secas! É... vidas secas!