[Para Sangrar – Velhas Lições...]
[Odeio pasteurizar sentimentos; detesto o chamado comportamento "politicamente correto" - a vida vale nada, os homens são maus... por isto, se eu pudesse, daria ao mundo o pior, o mais intragável dos remédios... e isto, com uma benevolente [e falsa, é claro!] intenção de cura!]
falsa, é claro!] intenção de cura!]
Durante muitos e muitos anos, quando eu sangrava, eu o fazia aos gritos, com ódio manifesto, ódio estampado na cara, nos olhos, e por fim, nos punhos duros, nas mãos cerradas, crispadas para que o golpe fosse daqueles de esmurrar a testa de um touro!
Mas o tempo passou... mais por azar que sorte, eu envelheci: de origens distantes no tempo e no espaço, que nem cabe mencionar aqui, veio a lição: eu estava errado... profundamente errado!
O que é preciso, cabível, e bastante eficaz, eu li nessa lição, ou melhor, nessas lições, é sangrar, com mão pacienciosa, mas ágil! Deve-se sangrar lentamente, em silêncio, e durante o ato, manter apenas um esboço de sorriso! É só assim, com o ódio guardado em conserva, salmoura fria, que nos surgirá nos olhos o brilho mais cortante! E é só assim, diante de um brilho desses, que a vítima invocará o Criador com mais devoção, com mais fé...
Afinal, para ser sublime, o ato do sangramento deve propiciar a fé, ou a vítima se tornará nosso igual no desprezo da vida e da morte. Imagino que tal sentimento não deve ser bom para quem está a render o espírito...
Como pude desprezar estas palavras do bom siso, do melhor proceder? Ah, sou rude mesmo... desprezei ensinamentos valiosos da vertente bugre que há em meu sangue! Mas, sempre é tempo, sempre... Biblicamenente falando, doravante, atarei estas lições ao meu pescoço!
E, tenho quase certeza — eu já disse, ter certeza não é a minha profissão — que o leitor, se pudesse escolher, iria preferir um sangramento assim, como este das antigas lições — ou será que eu leio mal as preferências dos homens? Com efeito, diria a minha mãe, que tão bem sabia sangrar...
PS: Só escrevi nesta macieza de tom por que ainda estamos em julho, o não-mês do ano, um tempo assim à-toa, este julho, o mês-cachorro-sarnento-magro do ano — apenas a prefloração dos ipês é que salva a cara anódina, triste e feia de julho...
dos ipês é que salva a cara anódina, triste e feia de julho...
[Penas do Desterro, 29 de julho de 2010]