LOBA
Beba, beba...
Sorva o ópio que restou em minha carcaça morta, inerte
Esperei-te por toda a vida, mas de nada adiantou
Agora estou morta pela droga do amor que me consumiu
Eu uivei para a lua à sua espera...
Eu suei frio nas madrugadas inóspitas...
Sentada em frente à luz das velas, sussurrava minhas orações
Apagaram-se pela longa espera...
O choro das velas espalhados na cabeceira da cama
Enegrecidos pelo tempo
Nas madrugadas mortas, meu corpo fremia de desejo e dor
Eu uivei para lua...
A dor da perda açoitando meu coração, dilacerando minha mente
Consumindo-me as entranhas
Olhava a janela e só vias o jazigos sombrios deixados pela sua partida:
Mortos minha esperança, meu amor, meu desejo, minha criança
As lágrimas juntando-se às gotas da chuva
E os lobos lá foram vieram juntar-se a mim solidários por minha dor
Crepitava o fogo do meu peito amargurado
Meu rosto quente espiava pela fresta da janela e só via noite
O sol escurecido pelo sangue das minhas veias cortadas
Pedaços de um coração terno e amante espalhados pelo assoalho
O mesmo em que nos amamos tantas vezes
O mesmo em que teu cheiro se eternizou
Guardei suas cartas enamoradas, cheias de versos e promessas
Guardei nossas canções no baú do passado
Guardei nossas fotos na lareira esperando que o fogo as consumisse
Guardei o meu amor para sempre
Em algum lugar de minha mente
Enterrei-os todos depois da minha morte
Ressuscitou um ser amargo e sem esperança
Uivando para a lua a cada noite de lua cheia
Cego de dor, louco de amor
O vento me açoita a carne dormente
Não posso reavivar mais o que somente agora
Só desenterrado por tuas mãos e tuas palavras
Tua boca e tuas escusas um dia quem sabe poderão renascer
Enquanto uivo pra lua triste nas madrugadas mortas que meu coração encerra
Enquanto uivo pra lua nua que nas noites de neblina inda te espera...