Inauguração




        Finalmente o sol surgiu. Depois de tantas noites. Depois de tantos dias frios. Além de frias, eram noites isoladas, num grande e denso vazio. Hoje os ossos já não doem tanto. 
        O coração se acalma vagarosamente. Os pés já não ficam tão congelados. Enfim, o dia se ergue aquecido.
        Só o que não se aquietam nesse primeiro solstício de calor, são os versos, que sobressalentes, não encontram palavras para versejar. Estão mudos de sons para eternizar as flores que se lançam ao soprar do vento suave, se adentrando calmamente pelas ruas paralelas.
        Sob o sol que em silêncio ganha o alto para dividir o dia, quase não há barulho, não há muitos murmúrios hoje. Pela grande janela, na deixa da réstia da luz, me é possível olhar para fora, onde pelas calcadas, pessoas se aquecem. Cada qual com seu pensamento, escassos ou não. Felizes ou não, mas seus, apenas seus.
        As árvores quase não se balançam. Só refletem o brilho do sol em suas folhas verdinhas, lavadas, lustradas como que por capricho. Tudo parece inauguração. Com aspecto de novidade no ar. 
        O silêncio que ora se faz, remete-me a outro lugar, passagens desconhecidas onde tudo é novidade. Coisas que poeticamente rimam com saudades, estranho, saudades de coisa que nem chegou.
        Lá fora, tudo tem aparência de novo. O frio é suportável e o dia se aquece lentamente. Enquanto aqui dentro eu só observo, a vista do andar superior é privilegiada, apenas eu vejo, outros não me vêm, outros passam, cada qual com sua vida, com seu destino. Cada qual com a sua estrada. Ladeada de flores, ou não!









*** imagens google****
AndreaCristina Lopes
Enviado por AndreaCristina Lopes em 20/07/2010
Reeditado em 19/07/2011
Código do texto: T2388916
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.