Saudade, amor, saudade

Bebo da saudade como quem bebe do veneno mais forte e fatal.
Há luas que brilham no céu enquanto o meu amor anda andarilho pelas estradas dos meus sentimentos.
Há rubras nuvens no céu enquanto bebo a cicuta do meu destino.
Há um raio de sol menino prontinho pra me levar.
Pra me levar pra outras saudades?
Quem sabe pra outras maldades que a vida tem pra mostrar?
Olha, a saudade dói inteira.
Dói dos espinhaços aos pés.
Dói feito sapato apertado.
Dói feito o calo danado que o espinheiro furou.
E a saudade fica, assim, zanzando dentro de mim como se fosse um reboliço, tudo de perna pro ar.
A saudade tenta.
A saudade aumenta chegando a doer na raiz.
Saudade... eternidade sofrida no tempo escasso da vida.
O meu coração se confrange em meio a tanta saudade.
Saudade devia ter idade certa pra doer.
Mas, parece que ela dói do nascimento até o cabra morrer.
É tudo tão esquisito.
A saudade é uma dorzinha que começa miúda, vai ganhando sustância até ficar parruda e ninguém aguentar mais.
Tudo muito estranho.
Porque existe saudade pequena, saudade simples de uns dias e saudade deste tamanho tão grande?
Não sei.
A vida que se souber que o diga.
Não tô aqui pra explicar.
Eu só sei da dor que sinto.
Da dor que dói arrochada.
Da dor que é desatino e daí não sei de mais nada.
Saudade... A palavra é danada de bonita, mas aquele que com ela grita não quer saber de belezuras.
Não.
Não adianta ser bonitinha se o que faz com a gente é espremer até o bagaço.
Podia calar muitas horas neste mal que me acomete, mas pouco ou nada mudaria no que parece ser uma peste.
Sendo assim não me calo, nem fico mudo.
Por que é mudo e calado que a saudade dói até mais não poder.