A Palavra

Não procurava nenhuma referência, um lugar banal escoado na indiferença da memória, ou um objecto sob o halo de uma lâmpada, apenas fluir as vogais de qualquer corpo para a dedicatória de um instante. E voltava os olhos ao real como quem celebra

a matéria do poema na palavra que o inventa - entre a névoa e a despedida de uma frase. Ficava a narração do dia sobre fragmentos, um risco no vidro desta luz que entra pela casa em círculos demorando-se pelas sombras cindidas do poente. Procurava a imaginação da noite e aquele outro brilho que pudesse trazer às sílabas a eloquência exacta de um vazio. Nenhuma referência, deixar na boca anódina a sensação

da palavra que vai.