Sentada na estação...

Observados os passos... Gente ocupada... Penso em laços.
Laços de fitas... Laços armados... Laços despreocupados.

Ouço os murmúrios... As lamentações diárias... O moço que não vem; a moça que se perde no asfalto.
Tudo lido no periódico centenário.

Mudam-se as épocas... As vestimentas... O brilho nos olhos...

Largaram o jornal comprado cedo... Enrolaram-se nos próprios cotovelos... Passos firmes em direção ao trabalho.

Lá, encontram mais dizeres... Que disputam com os afazeres... Com as contas para pagar.
Restituição do que precisa ser provado... Comprovado o que gastou... Recebe as sobras... Aquilo que se "indireitou".

Sentada na estação... Cuspo as lágrimas do que pensei... Sinto tudo, outra vez...

O trem chega... Avisa logo... A partida atípica do dia...
Vejo, nas entrelinhas, os rostos de muitas marias.

Ali, sentada de antemão... Olhando o futuro acerto... Reflexo e meio-termo... Meio de transporte da população.

E o caminhar de mãos dadas... Do homem e da 'namorada'... As compras desnecessárias... O piscar do tempo, em algumas moedas gastas... Fazer do dia o comum enlace... (Volto aos laços).

Balanço as pernas... Não, impaciência. Mas, para despertá-las... Para não igualá-las aos dormentes que paralelam ao chão...

Largo o livro... Estou cansada... De esperar que os dedos leiam, nas dobraduras da capa... Que o meu mundo é um vagão. Encaixado ao rítmo dos outros... Engavetados os sonhos... Descarrilham-me, em pedras colocadas sobre os trilhos.

Ergo os olhos... Fito mais um mendigo... Tal e qual a todos os "pedintes"... Que precisam pedir aos céus... Ao irmão... Ao governo... Ao patrão... Aos seus elos sorridentes... Às nervuras amassadas... Ao servil da empregada... Ao seu próprio coração...

A dependência do gado... Dos valores retorcidos... Das vendas, nas mudanças de estação... (Inverno, frio, compra-se mais parciais ovelhas... Não se Esquecendo que esta tem de ser na cor certa, com a gola em moda... Com as cores de outra década)... Repetição.

Se o tosquear é necessário... Por que não mais uma malha no armário?... Resta a decisão...

Sentada na estação... Ganho votos de esperança... "Eu farei a diferença, se escolher, na urna, o certo..."... O papel gasto "contigo", eu diria a esse "amigo" poderia virar pão... A criança que "afuturam" bebe água sem controle, mata a fome com o droga de uma vida que lhe mata o verde trigo.

Levanto-me do banco... Caminho mais alguns passos... Olho atenta o que não vem...

Ainda não rastreei os livros que eu comprei... As páginas que não lerei... O copos que não quebrei... O trem chega logo, não tarda... Quem sabe o pino se solta... E viro folha morta, igual as que eu pisei na estação do trem.


11:19