QUADRO EM BRANCO
Nada se apaga quando se disse sinceramente
E sinceramente se registrou no papel
O que o tempo deixou na memória
E dela se compartilhou o que precisava ser público.
Os mal entendidos se superam quando se reconhece
Que nada fora mal intencionado
E o que da lousa se tira permanece naquele que já leu.
Assim acontece quando se sabe
Que nada ultrapassa os limites da sincera amizade
E se no jardim outras flores não mais existem
Não se culpa o jardineiro nem o transeunte.
E se pinceladas de brilhantes matizes do quadro se removeu
Foi por descuido do restaurador e a ele se debita o ocorrido
Porém não se sacrifica quando se pretendia poupar maiores desgastes
E a jóia do Nilo foi habitar o imaginário do homenageado
Das pinceladas displicentemente removidas.
E no seu lugar
Um quadro em branco espera outras cores
E quem sabe nessa sobreposição de matizes
Novos olhares se revelam
E aquilo que pareceu grosseria de pintor amador
Se revele outras e novas maneiras de olhar o outro.
E desfeito a mal entendido
Se restabeleça o que por descuido fora removido.