Natureza Duelista

À

P.A.A

e

I.L.P.S

Eu não sei como isso se faz, nem sei menos como desfaz...

Se esta fosse uma carta à negação, talvez eu me saísse melhor, afinal foi do "não sei como cheguei aqui", que esta se originou.

Eu já senti falta, mas descobri sentir saudades, até dois segundos atrás eu achava que eram sinônimos.

Tolo pensamento que se "não aprende no amor, aprende-se pela dor", assim diz o dito popular que muito bem se aplica.

Eis que aprendo pela mesura da angústia a distinção de ambas.

Que a falta é simples, se supre, que a saudade, corrói, mata.

Onde a primeira, sendo simples incomoda, já a segunda angustia.

E me encontro em estado de saudade. Uma saudade nutrida de adjetivos baixos e tristes. Uma saudade que dói, que chora, que me põe crua aqui como se escrever fosse diluir essa saudade. Como se a tinta da caneta fosse de saudade e cada letra dela fosse um alívio à alma.

...

Já me deparei com tantos escritos ruins sobre a saudade que pensei em silêncio, do lado mal dessa minha dicotomia, que jamais escreveria um texto sobre.

Não sei se me afetei pela futilidade dos que me cercam. A sua ausência abriu a porta da redoma e os monstrinhos entraram. Pobre Rosa-flor, Pequeno Príncipe.

O fato é que pensei, admito, que um texto sobre saudades não nasceria de mim. Talvez assim o seja, pois não nasceu diretamente de mim, sinto saudades de ti.

Agora me pego pensando: Se a porta está aberta, a quem intrometido fosse, de entrar sem convite, poderia eu usufruir da malícia humana e fazer nascer um amigo. Uma lástima sabermos que amizade não se produz, nasce.

...

Chego ao abismo do acaso, numa agonia desconsertante, que do medo me fiz máscara e da máscara, maquiagem. Armadura de menina. E aqui paro e reflito: Onde eu quis chegar com tantas tentativas frustradas?

Todavia, afirmam: tentativas são partes do aprendizado.

Pois quem disse que eu queria aprender como se faz?

Eu ando tão confusa que os projetos meus estão voando pela porta aberta.

Ao menos aprendi que era melhor quando estava fechada, mas perdemos a chave na correria do dia-a-dia. Entre, deixemos as formalidades de lado e seja bem-vindo.

Não culpo mais quem, ao ver a porta aberta, entra. Eu não sei se eu faria isso, mas tenho aprendido que nem todos são uniformes. Atualmente somos física. Uniformemente variáveis. Todos humanos somos.

Penso que se houver culpa a ser atribuída, que me entregue. Já tenho uma caixa delas e Pandora já a abriu.

Se dessa minha confusão toda essa agonia inexistisse, acho que passaria bem por ela. Não, ninguém me disse que passaria; esse meu lapso verbal só demostra o fio de cabelo fino de menina nova que deposito na vida serena por vir.

Damos passos às escuras e meu preconceito me mata. Tenho medo do novo, do mudar, do por vir e do será.

A estagnação, a estática me incomodam também. E fico nessa natureza estranha num duelo que se trava em duas de mim. A que foi e a que fica.

A que foi não me diz como é. A que fica me mata.

Não me condene à loucura, nobres senhores, pois que sou como

Fernando. Muitas em mim mesma.

Pessoa que desfia. Pessoa que definha.

E me perco nos fios de mim, perco a ponta, faço um nó e crio mais de mim dos fios que quebram.

Novelo de minha confusão. Cecília que se edifica.

Sou tantas que nessas páginas já fui choro, já fui sozinha, já fui saudade, mas sou sempre confusão.

Natureza duelista que me cansa e me afasta. Do quê? ...

E, já que perdemos a chave da redoma, encoste a porta, por favor.

[...]

Ísis Almeida Esth
Enviado por Ísis Almeida Esth em 12/07/2010
Reeditado em 18/03/2012
Código do texto: T2372986
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